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Gestão Financeira no agro: oportunidades e desafios para o sucesso no campo

Crédito: Samuel Pedrosa/Pixabay
Crédito: Samuel Pedrosa/Pixabay

POR LEANDRO CIZOTTO — A convite do 100PORCENTOAGRO, a partir de agora estarei por aqui regularmente, escrevendo e interagindo sobre gestão financeira de empresas médias, em especial de fazendas e negócios agrícolas.

Tenho o CEP em São Paulo, mas também muita paixão pelo campo e um certo histórico e conhecimento para compartilhar sobre o agro. E o “um certo” não está aqui à toa: se há algo que aprendi no agro, é que estamos sempre aprendendo. Respeitar o conhecimento do outro e buscar absorver as lições que a grande professora natureza nos dá é fundamental no nosso meio.

Minha contribuição aqui vai ser no campo da gestão e das finanças no agronegócio. Isso porque, quando falamos de produção e ciência agropecuária, já somos referência mundial. Lideramos a produção e exportação de grandes commodities — entre elas carne bovina e café, dois gigantes do Cerrado Mineiro. Além disso, somos um dos países mais digitalizados no campo. De acordo com o estudo “A Mente do Agricultor Brasileiro 2022”, publicado pela McKinsey, ao menos 50% dos nossos produtores já utilizam tecnologias digitais.

Mas, embora sejamos referência na produção, na gestão financeira dentro da porteira, ainda precisamos avançar. Segundo a Serasa Experian, a inadimplência entre produtores rurais chegou a atingir patamares superiores a 28% em 2023, enquanto os pedidos de recuperação judicial cresceram 80% em 2024. Além disso, segundo a CNA, mais de 20% dos pedidos de crédito bancário rural no Brasil são negados por falta ou má qualidade de documentação financeira. Podemos pensar que este quadro seja uma consequência da queda de preços e das dificuldades climáticas que vivemos especificamente no último ano-safra, certo? Mas vamos lá, todos nós sabemos que a instabilidade só deve aumentar e se tornar uma constante na vida rural daqui para frente.

No caso do clima, geadas e secas devem ser cada vez mais imprevisíveis e frequentes. No caso dos preços (tanto de commodities quanto de fertilizantes), a flutuação deve seguir forte conforme mais eventos geopolíticos e sanitários se sobrepõem pelo mundo. Há também desafios já previsíveis, que demandarão maior controle do agricultor. O desafio de disponibilidade de mão de obra qualificada no campo deve pressionar o seu custo de pessoas. Já a exigência de certificações e atendimento a normas e fiscalizações cada vez mais rígidas o pressionarão a ser mais organizado com seus dados – e o penalizarão em caso de inconformidade ou falta de transparência.

Mas nem tudo é risco pela frente. O agro tem uma série de novas oportunidades que, com boa gestão financeira, podem ser muito bem capturadas e transformar a vida do produtor. Atualmente, uma fazenda é capaz de gerar múltiplas fontes de receita incrementais à lavoura principal, como créditos de carbono, geração de energia e subprodutos. Além disso, o incentivo do mercado a financiar e premiar melhores práticas (sobretudo ambientais) abre oportunidades para acesso a fontes de financiamento e mercados consumidores novos e promissores.

Por fim, já está claro como uma boa gestão financeira contribui para promover um ambiente interno saudável e produtivo. Por exemplo, permite criar programas de metas que engajam os funcionários e os deixam mais conscientes do impacto de suas atividades para o sucesso da operação. Além disso, ajuda a manter uma comunicação fluida com os sócios, o que no caso do agro tem uma relação íntima com a estabilidade do círculo familiar.

Desta forma, uma boa gestão financeira é e será cada vez mais decisiva para o sucesso de uma propriedade rural. Isso porque permite enxergar os desafios atuais, simular o impacto de riscos futuros, analisar estrategicamente novas oportunidades e transmitir credibilidade, tanto para fora da fazenda (de forma a engajar clientes, credores e investidores) quanto para dentro (de forma a engajar funcionários e sócios).

Mas quais são os componentes de uma boa gestão financeira no agro? Basicamente, estamos falando de três pilares essenciais:

  1. Estratégico: Ter uma visão de longo prazo atrelada a uma projeção financeira com cenários. Saber onde quer chegar, planejar o caminho e simular o que pode vir a ocorrer e alternativas.
  2. Tático: Criar orçamentos bem embasados e inteligentes, que guiem as decisões operacionais de curto prazo e direcionem bem investimentos para longo prazo.
  3. Operacional: Manter documentação atualizada e correta do que entra e sai da fazenda, do que é desempenhado e aplicado no campo, e de todas as movimentações financeiras.

Em nossas futuras conversas, vamos explorar mais a fundo tudo que abordamos acima: oportunidades, riscos, desafios, potencialidades e componentes de uma boa gestão financeira no agro. Porém, sempre atentos às particularidades de cada cultivo e realidade, tanto na agricultura (da fruticultura às anuais) quanto na pecuária (da cria à engorda).

Convido você a continuar acompanhando esta coluna. Juntos vamos transformar a gestão financeira em uma aliada poderosa para o crescimento do nosso agro.
Será um prazer continuar essa conversa!