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Cooperativismo mineiro e crescimento sustentável: diretor da Expocacer considera cooperativas agrícolas mais resilientes

Cooperativismo é um dos modelos de negócio mais resilientes e sustentáveis no Brasil. Expocacer é referência no segmento (Foto: Expocacer)
Cooperativismo é um dos modelos de negócio mais resilientes e sustentáveis no Brasil. Expocacer é referência no segmento (Foto: Expocacer)

Cooperativismo mineiro se destaca pela resiliência e sustentabilidade. Mais de 70% das cooperativas atuam há mais de 10 anos. Em 2023, o setor cresceu em novos cooperados e empregos

O cooperativismo tem demonstrado ser um dos modelos de negócio mais resilientes e sustentáveis no Brasil. Segundo o Anuário do Cooperativismo Mineiro 2024, divulgado pelo Sistema Ocemg, 76,7% das cooperativas do Estado têm mais de dez anos de atuação. Das 785 cooperativas registradas, 86 já ultrapassaram meio século de operação, com algumas delas somando mais de 80 anos de existência. Além disso, 204 cooperativas possuem entre 30 e 49 anos, enquanto 312 estão no mercado há entre 10 e 29 anos. Apenas 23,3% das cooperativas têm menos de 10 anos de operação, sendo 68 com idades entre cinco e nove anos, e 115 com menos de cinco anos de atividades.

Em contraste com o cenário das empresas tradicionais, as cooperativas mantêm um desempenho mais estável. Segundo o Mapa de Empresas do Governo Federal, somente em 2023, houve o fechamento de 2.153.840 negócios no Brasil, dos quais 95,16% eram microempresas e 2,3% pequenas empresas. Nesse mesmo período, o cooperativismo registrou uma redução de apenas 184 cooperativas em todo o país, sendo a maioria resultado de fusões para otimizar recursos e ampliar mercado. Em Minas Gerais, o Anuário do Sistema Ocemg destaca um forte crescimento com a adesão de 419.479 novos cooperados e a criação de 2.845 novos empregos em comparação com o ano anterior.

Para a economista Rita Mundim, a força do cooperativismo reside em três pilares: governança, meio ambiente e responsabilidade social. Segundo ela, “é um modelo de gestão descentralizada, socialmente justo e ambientalmente sustentável, pois se preocupa com os recursos do planeta, valoriza as pessoas e entrega produção”. Diferentemente das empresas tradicionais, onde o poder é centralizado, no cooperativismo os cooperados participam ativamente das decisões, e os lucros são distribuídos de maneira proporcional à contribuição de cada um.

Sustentabilidade e impacto social

O cooperativismo se destaca também pela sua capacidade de alinhamento com práticas sustentáveis, tão necessárias no século XXI. As organizações que integram o uso consciente de recursos e adotam processos sustentáveis ganham cada vez mais espaço no mercado. Rita Mundim enfatiza que o cooperativismo é “a essência dessa visão de futuro”. À medida que a sociedade toma conhecimento desse modelo, cresce a adesão, em especial devido ao equilíbrio que ele promove entre resultados financeiros e responsabilidade socioambiental.

Outro ponto relevante do cooperativismo é o impacto social nas regiões onde atua. Ao contrário das empresas tradicionais, em que os acionistas podem estar distantes das operações, nas cooperativas os cooperados vivem nas mesmas localidades onde seus negócios estão estabelecidos. Isso gera um impacto positivo direto na economia local. “Onde há cooperativas, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é maior. As sobras distribuídas entre os cooperados são reinvestidas na própria região”, explica a economista, ressaltando a contribuição do modelo para o fortalecimento da economia regional.

Educação e inovação

O investimento em educação é um dos pilares que fortalece o cooperativismo. Segundo Rita Mundim, “nenhum sistema investe mais em educação em todos os níveis do que o cooperativista, desde os colaboradores ao corpo diretivo”. Esse foco na capacitação contínua garante a busca constante por inovação e qualidade, elementos que asseguram a longevidade do setor.

O Sistema Ocemg é um dos principais responsáveis por implementar programas de capacitação no Estado. Um dos destaques é a “Trilha Prática para a Excelência”, realizada anualmente para cooperativas do nível “Primeiros Passos”, que receberam o selo do Prêmio SomosCoop Excelência em Gestão no ano anterior. Missões internacionais também integram as iniciativas de formação, levando líderes cooperativistas para as melhores escolas de negócios do mundo.

Cooperativas históricas

Um exemplo de longevidade e sucesso é a Cooperativa Regional dos Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), que em 2024 completou 92 anos de atuação. Com mais de 20 mil cooperados, sendo 97% deles pequenos produtores que vivem da agricultura familiar, a cooperativa está presente em mais de 330 municípios de Minas Gerais e São Paulo.

Outro exemplo de destaque é a Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR), fundada em 1948, e que reúne 31 cooperativas e 25 mil cooperados distribuídos em 280 municípios. Marcelo Candiotto, presidente da CCPR, atribui a longevidade da entidade ao compromisso com a qualidade e a inovação, além da união entre os cooperados. Segundo ele, “a união e a colaboração são pilares fundamentais para o sucesso e a longevidade de qualquer cooperativa”.

Candiotto também destaca o apoio do Sistema Ocemg como essencial para o fortalecimento do setor, oferecendo suporte institucional e promovendo a integração entre as cooperativas mineiras. “Esse apoio tem sido imprescindível para fortalecer nossa posição no mercado e garantir a sustentabilidade do nosso negócio”, conclui.

O cooperativismo, com sua base sólida e capacidade de adaptação, continua a ser uma força vital para o desenvolvimento sustentável e para a criação de oportunidades econômicas, destacando-se como um modelo de sucesso e longevidade em Minas Gerais e no Brasil.

Cooperativas cafeeiras são mais resilientes do que empresas agrícolas tradicionais, diz Diretor da Expocacer

Em entrevista exclusiva, o Diretor Presidente Executivo da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocacer), Simão Pedro de Lima, considera que as cooperativas cafeeiras demonstram maior resiliência em comparação com empresas tradicionais do setor agrícola, devido à sua estrutura colaborativa, que fortalece a rede de apoio entre cooperados e colaboradores. O modelo de governança participativa garante decisões estratégicas coerentes com os interesses de todos os membros, reforçando o sentido de comunidade. Além disso, a adoção de práticas sustentáveis impacta positivamente a operação e valoriza o produto no mercado. Por fim, o investimento contínuo em capacitação técnica e gerencial prepara os cooperados para os desafios futuros.

Diretor Presidente Executivo da Expocacer, Simão Pedro de Lima
Diretor Presidente Executivo da Expocacer, Simão Pedro de Lima

Como o senhor avalia a resiliência das cooperativas cafeeiras em comparação com empresas tradicionais do setor agrícola?

A resiliência das cooperativas cafeeiras é notável, especialmente quando comparadas às empresas tradicionais do setor agrícola. Nossa estrutura colaborativa nos permite enfrentar desafios de forma mais coesa (cooperados e colaboradores). Enquanto muitas empresas estão sucumbindo às crises financeiras, as cooperativas, como a Expocacer, mantêm-se firmes, fortalecendo sua rede de apoio e garantindo a continuidade das operações e a geração de renda. Com o propósito de inspirar, fomentar e nutrir uma cafeicultura de vanguarda, ter resiliência é necessário para o crescimento do cooperativismo.

A Expocacer tem investido em práticas de sustentabilidade ambiental. Como essas iniciativas impactam a operação e os cooperados?

As práticas de sustentabilidade ambiental que implementamos têm um impacto direto na nossa operação, nos nossos cooperados, colaboradores e parceiros comerciais e institucionais. Ao adotarmos técnicas que promovem a sustentabilidade ambiental, econômica e social, não só melhoramos a qualidade do nosso trabalho e dos nossos stakeholders, mas também fortalecemos a consciência ambiental entre os cooperados e promovemos mais qualidade nas relações, nos serviços e na produção de café. Isso resulta em produtos mais valorizados no mercado e contribui para a preservação do nosso patrimônio natural.

De que forma o modelo de governança das cooperativas cafeeiras promove a participação ativa dos cooperados nas decisões estratégicas?

O nosso modelo de governança é um pilar fundamental para a participação ativa dos cooperados. Realizamos assembleias onde todos têm a oportunidade de expressar suas opiniões e votar em decisões estratégicas. Essa participação é essencial para garantir que nossas ações estejam alinhadas com as necessidades e aspirações dos membros, promovendo um verdadeiro sentido de comunidade e pertencimento. O Conselho de Administração representa ativamente os cooperados e os seus anseios. São conselheiros sempre presentes que cultivam a filosofia cooperativista. A diretoria executiva, profissionalizada, faz a gestão organizacional, sempre seguindo as diretrizes estabelecidas pelo Conselho de Administração.

O pilar da governança é a sinergia entre o Conselho Fiscal, órgãos voltados à valorização da cafeicultura em todos os seus segmentos.

O estatuto social contempla e regula todas as ações dos atos cooperativos, gestão administrativa e as ações socioambientais da Expocacer.

A transparência radical é uma marca de governança corporativa.

Em relação ao investimento em capacitação, quais ações a Expocacer tem adotado para fomentar o conhecimento técnico e gerencial entre os cooperados?

Na Expocacer, estamos comprometidos com a capacitação dos nossos cooperados. Temos promovido uma série de workshops e treinamentos focados em técnicas de cultivo, gestão financeira, legislação trabalhista e inovações no setor. Esse investimento em conhecimento técnico e gerencial é crucial para que nossos cooperados se sintam preparados e competitivos no mercado.

Na Expocacer há o Fundo ou reserva1 de Assistência Técnica, Educacional e Social (FATES), que é voltado à capacitação das pessoas do mundo da Expocacer. O aprimoramento constante é um dos pilares cooperativista.

Somos inquietos pelo progresso e o progresso só se concretiza capacitando todas as pessoas e conscientizando-as sobre a importância de todas suas parcelas de contribuição.

O senhor acredita que as cooperativas cafeeiras estão preparadas para enfrentar os desafios econômicos e climáticos do futuro?

Acredito que as cooperativas cafeeiras estão preparadas para enfrentar os desafios econômicos e climáticos que virão. Nosso modelo cooperativo nos permite unir forças e compartilhar recursos, o que nos torna mais resilientes. Com nossa ênfase em práticas sustentáveis e inovação, estamos prontos para adaptar nossos métodos e produtos às novas demandas do mercado e às mudanças climáticas.

Como já dito, o aprimoramento constante é uma marca cooperativista, assim as ações preditivas fazem parte do planejamento estratégico da Expocacer.

O futuro, de certa forma, pode ser antevisto pela forma de agir no presente.

Ações bem planejadas, atitudes bem tomadas pavimentam a estrada do futuro. Podemos dizer que o futuro é a consequência das ações do presente. Dessa forma, preparar-se para o futuro é consolidar o presente.

Por meio da colaboração, com respeito socioambiental, com boas práticas de gestão, com a valorização do ser humano, pode-se cultivar o futuro hoje.