
A CNA projeta crescimento impulsionado pela produção agrícola e indústria de insumos. Entretanto, desafios como câmbio, inflação e taxa Selic elevada podem impactar o setor
O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro deve crescer em 2025, com avanço estimado em até 5%, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A entidade aponta que o cenário econômico, tanto interno quanto externo, traz desafios relacionados à política fiscal, câmbio, inflação e taxa Selic.
Em coletiva realizada na quarta-feira (11), na capital federal, o presidente da CNA, João Martins, apresentou o balanço de 2024 e as expectativas para o próximo ano. Também participaram o diretor técnico, Bruno Lucchi, e a diretora de Relações Internacionais, Sueme Mori.
A produção primária agrícola e a indústria de insumos devem impulsionar o crescimento em 2025, com destaque para os grãos e a agroindústria exportadora. No entanto, fatores como a valorização do dólar, custos de insumos importados e juros altos são pontos de atenção.
Mercado externo e exportações: a conclusão das negociações do acordo Mercosul-União Europeia foi anunciada em dezembro, mas o cenário permanece desafiador. Medidas como a Lei Antidesmatamento (EUDR) e tensões econômicas globais continuarão impactando o setor.
O dólar valorizado favorece exportações de commodities, mas pressiona os custos de produção, especialmente fertilizantes e pacotes tecnológicos. A carne bovina deve registrar alta nas exportações, embora a produção interna deva recuar 3,3% devido à virada do ciclo pecuário.
Selic e crédito rural: a política monetária será determinante em 2025, com expectativa de manutenção da taxa Selic em 13,50% ao ano. Juros elevados dificultam o acesso ao crédito rural, afetando a expansão do setor.
O orçamento do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) é de R$ 1,06 bilhão, valor considerado insuficiente pela CNA diante da demanda de R$ 4 bilhões. O setor aposta em iniciativas como o Projeto de Lei 2.951/2024 para modernizar a gestão de riscos.
Produção e VBP: a safra de grãos 2024/2025 deve alcançar 322,53 milhões de toneladas, alta de 8,2% em relação ao ciclo anterior, segundo a Conab. O Valor Bruto da Produção (VBP) projetado para 2025 é de R$ 1,43 trilhão, com crescimento de 7,4%. A receita agrícola deve atingir R$ 937,55 bilhões, enquanto a receita da pecuária deve crescer 9,2%, totalizando R$ 495,13 bilhões.
Infraestrutura e logística: o transporte hidroviário deve receber investimentos com a criação da Secretaria Nacional de Hidrovias e Navegação e o lançamento do Plano Geral de Outorga Hidroviária. No setor ferroviário, a Ferrovia Transnordestina terá aporte de R$ 3,6 bilhões, enquanto o leilão da Ferrogrão dependerá de liberação do Supremo Tribunal Federal (STF).
Cenário internacional e comércio: tensões geopolíticas, medidas de proteção ambiental e desaceleração econômica na China devem influenciar o mercado em 2025. A propagação de informações falsas sobre a produção brasileira preocupa o setor, que avalia ações legais para mitigar os impactos.
Em 2024, o comércio internacional de produtos do agro movimentou US$ 152,6 bilhões até novembro, com estimativa de fechar o ano em US$ 166 bilhões, mantendo a participação de 49% na pauta de exportações do país.
Balanço 2024: o PIB do agronegócio deve encerrar 2024 com alta de até 2%, impulsionado pela recuperação de preços na cadeia da bovinocultura de corte. A inflação, entretanto, deve superar o teto da meta, fechando em 8,49%.
São necessárias estratégias para fortalecer a sustentabilidade e a competitividade do agro diante dos desafios previstos para o próximo ano, defende a CNA.