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Vitivinicultura na Região do Cerrado Mineiro: conexão café e vinho

Cerrado é propício para uvas com solo arenoso e clima favorável (Mariana Penaforte de Assis/Divulgação)
Cerrado é propício para uvas com solo arenoso e clima favorável (Mariana Penaforte de Assis/Divulgação)

Vitivinicultura floresce no Cerrado Mineiro, terra do café. Projeto inovador une café e vinho

Esta é uma reportagem especial para ser lida com calma, exatamente como se faz ao apreciar um bom vinho: uma experiência sensorial que envolve todos os sentidos. Portanto, prepare o ambiente, ajuste a temperatura, sirva-se e saboreie lentamente.

Reconhecida no mundo inteiro por seus cafés de excelência, a Região do Cerrado Mineiro (RCM) está despertando para uma outra atividade igualmente saborosa: a vitivinicultura. Em entrevista exclusiva ao podcast 100PORCENTOAGRO no Spotify, o engenheiro agrônomo e consultor do Sebrae Educampo, Flávio Bambini, fala com orgulho do projeto “Vinhos do Cerrado”.

A RCM tem um nome internacional consolidado, com denominação de origem do café. Mais de 99% dos produtores da região atuam na cafeicultura. “A gente quer ligar essa denominação de origem do café, realizado pela governança regional nesses cerca de 50 anos de Cerrado Mineiro à estrutura de vinho também”.

Região chamou atenção para o cultivo de uvas destinadas à produção de vinhos (Foto: Portal BonVivant)
Região chamou atenção para o cultivo de uvas destinadas à produção de vinhos (Foto: Portal BonVivant)

Área geográfica localizada em Minas Gerais, importante destino turístico, com belas paisagens, culinária rica e cultura marcante, a RCM é composta por 55 municípios, entre os quais Patos de Minas, Patrocínio, Uberaba, Ituiutaba, Araxá, Uberlândia, Frutal, Monte Carmelo, Coromandel e Prata. A área total soma 210 mil hectares. Seu clima tropical úmido e solo fértil torna a região ideal para o cultivo de café, e também chamou atenção para o cultivo de uvas destinadas à produção de vinhos.

Projeto Vinhos do Cerrado

Em 2014, após um dia de campo promovido pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), em Caldas, Flávio Bambini decidiu começar um projeto de vinhos na RCM, e convidou para a empreitada os consultores Frederico Novelli e Murillo A. Regina. Os dois fizeram uma análise de viabilidade no novo terroir e deram assessoria na implantação de um vinhedo, segundo as premissas técnicas conhecidas para a Região.

Epaimig é uma das apoiadoras do Projeto Vinhos do Cerrado Mineiro (Foto: Kelly Brito)
Epaimig é uma das apoiadoras do Projeto Vinhos do Cerrado Mineiro (Foto: Kelly Brito)

Uma das características mais marcantes foi a relação perfeita com a Tecnologia de Manejo da Dupla Poda. Na RCM, “o período de maturação das uvas durante o outono/inverno é bem definido, caracterizado por clima, dias quentes apresentando temperaturas de 25 a 27°C e noites frias com temperaturas de 7 a 12°C, além da diversidade de tipos de solo geralmente profundos, com boa capacidade de drenagem e com altitudes variando de 850 a 1.250 metros. Portanto, pode-se dizer que estas são as condições ideais para produção e maturação da uva, fato anteriormente inimaginável em regiões tropicais. Somente o período da maturação pode estender-se de meados de abril, onde inicia-se o pintor, até final de julho/início de agosto, muitas vezes ultrapassando os 100 dias de maturação”, explica Bambini.

O especialista conta, ainda, que as variedades recomendadas, atualmente, ainda são a Syrah e Sauvignon Blanc, muito adaptadas à tecnologia da dupla poda, com bom potencial produtivo. E os tratores, máquinas e equipamentos agrícolas utilizados na cultura do café são os mesmos para a viticultura, possibilitando conduzir as lavouras de uva sem maiores investimentos, otimizando recursos e diversificando a cultura. “Seria o início do café e vinho caminhando lado a lado”.

Bambini avalia que o Projeto Vinhos do Cerrado não alcançou áreas mais expressivas devido à grande demanda e à indisponibilidade de mudas certificadas, mas a área plantada começa a tornar-se significativa. O potencial de vinificação é de 40 a 50 mil garrafas por ano, com gradativo aumento de produção.

Pioneirismo na vitivinicultura regional

Pioneiro da cultura na região, em outubro de 2015, Flávio Bambini implantou o “Projeto Fortaleza”, em uma área de 0,5 hectare de sua fazenda em Cruzeiro da Fortaleza.

O enorme interesse gerado pela iniciativa levou ao surgimento do Projeto Vinhos do Cerrado.

Projeto Fortaleza é pioneiro (Foto: Portal BonVivant)
Projeto Fortaleza é pioneiro (Foto: Portal BonVivant)

Sucesso certo

O perfil da Região do Cerrado Mineiro permite vislumbrar claramente o que pode ocorrer em um curto espaço de tempo em relação à vitivinicultura. A segunda geração de famílias dedicadas à cafeicultura está assumindo a gestão das propriedades agrícolas, trazendo junto o know-how de produção empresarial, a atitude, a integração, o profissionalismo e uma estrutura organizacional e de governança criada pelo Café da Região do Cerrado Mineiro. Esses fatores, na avaliação de Flávio Bambini, serão essenciais no desenvolvimento da vitivinicultura no Cerrado.