Minas Gerais é o estado que mais produz a hortaliça. São Gotardo é reconhecida como capital nacional da cenoura
O primeiro híbrido de cenoura para plantio no verão e primavera, desenvolvido por uma empresa pública, acaba de chegar ao mercado. É a BRS Carmela, recomendada para todas as regiões do país. Resultado de melhoramentos genéticos realizados na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a cultivar é resistente à bactéria e aos fungos causadores da queima-das-folhas. A doença foliar ataca a cultura, causando a desfolha da planta, e é um dos principais fatores de perdas na lavoura. No desenvolvimento da nova cultivar, a Embrapa atuou em parceria com a empresa Isla Sementes.
Para o pesquisador Agnaldo de Carvalho, da área de melhoramento genético de cenoura da Embrapa Hortaliças, de Brasília (DF), a vantagem de um híbrido de verão resistente à queima-das-folhas é visível em plantios nos períodos mais quentes e chuvosos. Responsável pelo desenvolvimento da nova cultivar, Carvalho considera que, “por sua resistência, a BRS Carmela é capaz de chegar ao fim do ciclo sem nenhum controle químico de doenças foliares. Já os híbridos de verão que estão no mercado são apenas tolerantes. Isso significa que os produtores que usam esses híbridos precisam fazer o manejo integrado com agroquímicos para finalizar o ciclo de produção. Ou seja, podemos inferir que, com o uso da BRS Carmela, o produtor diminui o custo de produção e ainda contribui com a preservação do meio ambiente”.
A nova cultivar da Embrapa apresenta, ainda, tolerância ao nematoide-das-galhas. Essa característica, agregada à resistência à queima-das-folhas, viabiliza o cultivo do híbrido em regiões com temperaturas mais elevadas.
A BRS Carmela é vista como um marco do melhoramento genético de cenoura na Embrapa. Na década de 1980, a Embrapa já havia desenvolvido a Brasília, cultivar de verão. Originalmente, a hortaliça era produzida apenas em regiões de clima ameno ou durante o inverno. O pesquisador recorda que “desde então, a Embrapa desenvolveu diversas cultivares de polinização aberta até alcançar o híbrido BRS Carmela para o cultivo de verão, que deve incrementar a cadeia produtiva, uma vez que ele mostrou ser um material competitivo com os híbridos de verão disponíveis no mercado”.
O melhor período de plantio da BRS Carmela é entre outubro a março, com a colheita começando 85 dias após a semeadura, não durando mais que 115 dias. A cultivar tem porte ereto, folhas verdes intensas e a planta alcança cerca de 45 centímetros de altura.
O novo híbrido permite o plantio durante a primavera e o verão nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. No Nordeste, não há restrição. Carvalho explica que esse complemento entre cultivares de verão e de inverno confere ao produtor a vantagem de poder semear e colher a hortaliça durante todo o ano, com preços mais acessíveis para o consumidor. O produtor, por sua vez, conta com colheitas contínuas, o que garante fluxo de caixa e maior capacidade financeira de cobrir as despesas diárias.
Híbridos de verão são diferenciados e incrementam a produtividade de raízes mais desejadas pelo mercado, se cultivados em condições ideais, quando comparados com cultivares de polinização aberta, conhecidas como OP.
Agnaldo Carvalho faz uma ressalva importante: “… os híbridos só são vantajosos quando aliados a outras tecnologias durante o cultivo. Caso contrário, não apresentam vantagem competitiva em relação às cultivares de polinização aberta”, conclui.
Largamente cultivada no Alto Paranaíba, notadamente em São Gotardo, a cenoura é uma das hortaliças mais consumidas pelo brasileiro. Minas Gerais é o estado que mais produz.