POR PAULIANE OLIVEIRA — Nos últimos anos, o setor agrícola tem enfrentado uma série de desafios que questionam a solidez e a resiliência de seus players.
Num período de bonança, a precisão nas contas muitas vezes foi deixada de lado, mas agora, com a maré menos favorável, cada centavo conta e o agro está aprendendo isso a duras penas. Mas afinal, o agro está em crise? Não necessariamente, mas atravessa um momento difícil que tende a se agravar até o final do ano.
Dados recentes de 2024 apontam para um aumento na inadimplência, no endividamento e nos pedidos de recuperação judicial no setor. Esses são sintomas de um cenário que vem se construindo há anos, marcado pelo entusiasmo dos produtores rurais em tempos de alta. Animados por um cenário de produção favorável durante a pandemia, muitos investiram pesadamente na expansão de suas operações: compraram terras, arrendaram mais áreas e adquiriram maquinários caros. Agora, esses mesmos produtores se veem altamente alavancados em dívidas, enfrentando um mercado menos promissor, sem perspectivas positivas que acompanhem a mesma intensidade de seus investimentos. Influenciado por fatores como o aumento no custo dos insumos para os produtores e a queda nos preços das commodities, reflexo das variações do mercado global, o panorama se agrava. Além disso, o setor de distribuição e indústria enfrenta a fase final do desafio de gerenciar estoques altos, agora sujeitos a serem vendidos a preços baixos, embora adquiridos em períodos de alta.
Diante de toda essa conjuntura, é essencial que haja diálogo. A falta de dinheiro exige bom senso, e a composição deve ser a primeira opção antes de se pensar em judicialização. Em tempos de vacas magras, a autopreservação é algo que vem à mente de muitos empresários e produtores rurais, mas é preciso estar atento às consequências. Os dados de recuperações judiciais no setor assustam por, sabidamente, trazer um impacto muito maior para todos, já que o agro é um setor sistêmico e dinâmico.
Quando o dinheiro falta, qualquer pequeno problema se torna grande, afetando todos os envolvidos. É uma situação que reforça a máxima de Dim Costa Neto: “Não é o trabalho que dignifica o homem, é a forma como se trabalha.” Observando empresas e produtores de diferentes perfis, tamanhos e maturidades, torna-se evidente que é a forma como se enfrentam os desafios que define os vencedores e os perdedores no jogo do agro.
A lição é clara: a escassez é também uma oportunidade para aprender a gerir melhor, pensar estrategicamente, e adotar práticas de governança e profissionalização. Quem estiver disposto a aprender, tem tudo para se recuperar e prosperar; quem ignorar essas lições, por outro lado, pode acabar ficando pelo caminho.