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Erosão genética e a luta pela agrobiodiversidade: a riqueza escondida nos biomas brasileiros

Corredor Ecológico Santa Maria é modelo (Crédito: Itaipu Binacional)
Corredor Ecológico Santa Maria é modelo (Crédito: Itaipu Binacional)

Pouco se fala sobre a agrobiodiversidade, um tesouro escondido em nossos biomas, como Pampas, Pantanal, Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga. Essa riqueza sustenta nossa alimentação e a saúde dos ecossistemas agrícolas, abrangendo a variedade de plantas, animais e microrganismos que coexistem nesses sistemas, tecendo uma rede intrincada de interações ecológicas que promovem resiliência e sustentabilidade.

No centro dessa diversidade temos as sementes camponesas, guardiãs do conhecimento e da genética ancestral que conferem às plantas adaptabilidade local. Cultivadas e selecionadas ao longo de gerações por agricultores tradicionais, essas joias genéticas se adaptam às condições específicas de solo, clima e práticas agrícolas de cada região. Elas representam não apenas uma fonte de alimento, mas também de cultura, história e identidade.

Há, também, as plantas domesticadas e selvagens. Algumas já foram domesticadas, mas muitas outras são selvagens e não sobrevivem em cativeiro, em hortos/viveiros ou fora do seu habitat natural.

Ameaça não pode ser ignorada

Não se pode ignorar a ameaça à agrobiodiversidade. A erosão genética está sob constante ameaça devido à expansão da monocultura, ao uso indiscriminado de sementes híbridas e transgênicas e à perda de práticas agrícolas tradicionais. Essa erosão empobrece nossa biodiversidade, coloca em risco nossa segurança alimentar e a resiliência dos sistemas agrícolas diante de desafios como mudanças climáticas e pragas.

Entre as principais estratégias para combater a erosão genética, os corredores ecológicos são uma rede de áreas naturais que conecta habitats fragmentados, permitindo o fluxo de genes entre populações de plantas e animais. Promovem a biodiversidade e facilitam a dispersão de sementes, aumentando a diversidade genética e fortalecendo a resiliência dos ecossistemas agrícolas.

Outra solução é o plantio consorciado. Cultivar diferentes espécies de plantas simultaneamente no mesmo espaço. Promove a diversidade genética e a complementaridade entre culturas, reduzindo a incidência de pragas e doenças e promovendo a saúde do solo.

Já a agrofloresta combina cultivos agrícolas com árvores e outras plantas perenes, imitando a estrutura e a diversidade de uma floresta natural. Promove a biodiversidade, fornece alimentos, fibras e outros produtos de forma sustentável, aumenta a resiliência dos sistemas agrícolas às mudanças climáticas, contribui para a regeneração do solo, a conservação da água e a redução da erosão. Integra a produção de alimentos à preservação da natureza, harmonizando agricultura e conservação.

Por sua vez, o manejo florestal sustentável utiliza os recursos florestais de forma racional, garantindo a conservação da biodiversidade, a manutenção dos serviços ecossistêmicos e o atendimento das necessidades das comunidades locais. Através de práticas como a extração seletiva de madeira, o monitoramento da regeneração natural e a proteção de áreas-chave, busca conciliar a exploração econômica com a conservação ambiental. Contribui para a preservação das florestas, o desenvolvimento socioeconômico das populações que dependem desses recursos e a sustentabilidade a longo prazo.

Mobilização inspiradora em Sergipe

Em abril de 2024, as Equipes da Embrapa Cerrados e Embrapa Tabuleiros Costeiros, o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola e técnicos e agricultores do Movimento Camponês Popular no Estado do Sergipe mobilizaram municípios do Sul Sergipano, oferecendo oficinas sobre plantio de corredores ecológicos e agrobiodiversidade, sementes crioulas e manejo sustentável de solo.

A iniciativa serviu como estratégia para motivar agricultores e técnicos do território e iniciar a implantação dos corredores.

Que essa ideia se alastre pelo Brasil. Na próxima coluna teremos mais detalhes a respeito.