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Agronegócio para além das lavouras e Faria Lima para além das planilhas

Faria Lima tenta encaixar o agro em suas planilhas, mas há detalhes importantes envolvidos (Imagem: Dall-E IA)
Faria Lima tenta encaixar o agro em suas planilhas, mas há detalhes importantes envolvidos (Imagem: Dall-E IA)
POR PAULIANE OLIVEIRA — No miolo de São Paulo, a Avenida Faria Lima simboliza o coração financeiro do Brasil, é o lugar onde o capital flui com a promessa de fomentar o progresso. Mais distante, há centenas de quilômetros, no mundo da agricultura, da pecuária e da agroindústria brasileira, o agronegócio busca sua parcela de reconhecimento e investimento, enfrentando, no entanto, a realidade de um crédito rural insuficiente para as demandas do setor. 

Por décadas, o crédito rural foi extremamente importante para o desenvolvimento agrícola do Brasil, embora agora na atualidade, frequentemente se mostre insuficiente e inacessível para muitos. 

A verdade que já tem sido mais difundida é que o agro brasileiro demanda alternativas de financiamento que transcendam as portas dos bancos tradicionais. O movimento de desbancarização incentiva a participação de novas instituições de crédito no mercado agrícola, incluindo agfintechs no custeio de safras e desenvolvimento agrícola, e vai alterando progressivamente o interesse dos produtores por novas opções de financiamento. Esse cenário não só aprimora o potencial agrícola, mas também aproxima o agro do mercado de capitais, onde o dinheiro parece fluir mais livremente.

Talvez, um dos maiores obstáculos nessa aproximação (necessária) seja a falta de entendimento mútuo. A Faria Lima tenta encaixar o agro em suas planilhas, desconsiderando as nuances de uma indústria a céu aberto sujeita às intempéries e à sazonalidade. Por outro lado, o agro, embora mestre em seu domínio de práticas agrícolas, hesita em adotar práticas de gestão e governança que o tornariam mais atraente ao olhar analítico dos investidores. Esse é um ciclo vicioso de desencontros e oportunidades perdidas. Agro e mercado de capitais parecem não ajustar o passo para dançar uma mesma música, parecem não perceber a harmonia e potencialidade das diferenças que carregam.  

Não há outra forma de superar essas barreiras: precisamos trabalhar a cultura da educação e da inovação. É imperativo que o agronegócio se abra para a profissionalização, adotando práticas de gestão, governança e sustentabilidade que o qualifiquem perante o mercado de capitais. Paralelamente, é essencial que a Faria Lima use novas lentes para analisar o agro, desenvolvendo modelos financeiros mais flexíveis que reflitam as particularidades deste setor.

A distância entre o agronegócio e a Faria Lima é mais do que um simples hiato geográfico; é um abismo de oportunidades perdidas. Encurtar essa distância não é apenas uma questão de necessidade econômica, mas uma urgência estratégica para o Brasil. Ao alinhar as exigências do mercado de capitais com o ritmo e particularidades do campo, podemos avançar na agenda de inovação, crescimento sustentável e prosperidade compartilhada. A hora de agir é agora. Que comecemos a construir pontes, não apenas entre dois pontos em um mapa, mas entre dois pilares essenciais da nossa economia.