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Terras raras em São Gotardo colocam Minas Gerais como potência em fertilizantes

Crédito: Wikimedia Commons
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Estado se destaca na produção de fertilizantes, podendo reduzir a dependência de 85% de insumos estrangeiros. Iniciativas atraem investimentos globais

O agronegócio brasileiro, essencial para a economia do país, enfrenta uma grande dificuldade: a dependência de fertilizantes importados, na faixa dos 85% de todo o volume utilizado no setor. Essa dependência expõe o Brasil às flutuações do mercado internacional de insumos e gera vulnerabilidade econômica. No entanto, Minas Gerais se destaca como uma potência para reduzir drasticamente essa dependência, oferecendo soluções inovadoras e sustentáveis.

Para Bernardo Silva, presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Matérias-Primas para Fertilizantes (Sinprifert), Minas Gerais já se consolidou como a maior produtora de fertilizantes do Brasil e da América Latina. “O estado não só possui o maior parque industrial de fertilizantes do país, como também atrai os investimentos e tecnologias necessários para impulsionar o setor”, destaca. Além disso, Minas Gerais conta com reservas significativas de fosfato e potássio, insumos fundamentais para a fabricação de fertilizantes. O estado também investe em novos projetos, como a produção de nitrogenados, reforçando sua posição de liderança.

Para Minas Gerais consolidar sua importância no cenário nacional, o subsecretário de Política Econômica e Agrícola da Secretaria de Agricultura de Minas Gerais, Caio Coimbra, enfatiza a necessidade de o estado desempenhar um papel ativo nas discussões políticas em nível federal, o que já está em andamento.

Plano Nacional de Fertilizantes e o papel de MG

O governo brasileiro estabeleceu metas ambiciosas por meio do Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), buscando reduzir a dependência de fertilizantes importados para 50% até 2050. Embora ousada, essa meta é vista como alcançável por especialistas do setor, incluindo Bernardo Silva. Segundo ele, o sucesso dessa iniciativa exige “atitude, foco e senso de urgência”.

Minas Gerais já está alinhada com os objetivos do PNF, atraindo grandes investimentos. Um exemplo é o Complexo Mineroindustrial em Serra do Salitre, no Alto Paranaíba, construído pelo Grupo EuroChem. Essa unidade integrada vai desde a extração da rocha fosfática até a distribuição dos fertilizantes, e é projetada para atender a 15% da demanda nacional. O projeto conta com investimentos superiores a US$ 1 bilhão e reservas minerais estimadas em 350 milhões de toneladas.

Iniciativas locais e parcerias estratégicas

Além de indústrias de grande porte, Minas Gerais busca fortalecer sua produção interna por meio de parcerias estratégicas. Uma dessas iniciativas é a missão ao International Fertilizer Development Center (IFDC), com foco em otimizar o consumo de fertilizantes na agricultura local e qualificar mão de obra especializada para o futuro do setor.

Outra parceria importante é com a Universidade Federal de Viçosa (UFV), por meio da criação do Hub MG de Fertilizantes. Esse centro de excelência é dedicado à pesquisa e inovação, com foco em fertilizantes à base de fosfato, essenciais para a produtividade agrícola de Minas Gerais e do Brasil.

Colaboração internacional e inovação

Um exemplo de colaboração internacional é a parceria com a Harsco Environmental, uma empresa multinacional americana que doou 10 mil toneladas anuais de fertilizantes à base de agrosilício para o estado de Minas Gerais. O agrosilício tem três vezes mais eficiência do que o calcário na correção de solo e contém 10% de silício, um elemento benéfico para o crescimento saudável das plantas. Essa inovação não apenas melhora a produção agrícola, como também promove a sustentabilidade, reduzindo a necessidade de defensivos agrícolas e fortalecendo naturalmente as plantações.

Descobertas terras raras em MG

Outro marco importante na trajetória de Minas Gerais no setor de fertilizantes e mineração foi a descoberta recente de argila de adsorção iônica com alto teor de elementos de terras raras (ETR) pela Verde Agritech. Essa descoberta ocorreu durante a reanálise de perfurações destinadas à exploração de fosfato na formação geológica de Monte Nau de Guerra, localizada entre os municípios de São Gotardo e Matutina, no Alto Paranaíba.

Os elementos de terras raras, como Praseodímio (Pr), Neodímio (Nd), Disprósio (Dy) e Térbio (Tb), são fundamentais para a produção de tecnologias relacionadas à transição energética global, como veículos elétricos e turbinas eólicas. Com o controle de uma área de 4.708 hectares para a extração desses elementos, a Verde Agritech se posiciona como um “player estratégico no suporte à mudança global em direção a soluções de energia renovável”, segundo Cristiano Veloso, fundador e CEO da empresa.

A extração de elementos de terras raras foi avaliada por meio de testes de lixiviação de sulfato de amônio, um processo que envolve a lixiviação em baixa temperatura e pressão atmosférica, seguido pela precipitação seletiva dos ETRs. Esse método demonstrou ser eficiente, com mínimas impurezas, o que pode garantir a viabilidade econômica do projeto.

Foco em fertilizantes sustentáveis

Mesmo com a descoberta promissora de elementos de terras raras, Veloso reafirma que a principal atividade da Verde Agritech continua sendo a produção de fertilizantes sustentáveis e de baixo carbono. O trabalho de avaliação dos ETRs está sendo conduzido de forma econômica, sem desviar a atenção do foco principal da empresa.

Com diversas iniciativas em andamento, Minas Gerais está pavimentando o caminho para que o Brasil alcance a independência em fertilizantes. O estado já desempenha um papel central na produção de insumos, e com os investimentos em inovação, colaboração internacional e novas descobertas, Minas Gerais se consolida como um ponto de transformação do setor. A longo prazo, essas ações beneficiarão não só a economia local, mas também fortalecerão o agronegócio nacional, proporcionando mais segurança e estabilidade para o futuro da agricultura brasileira.