Pesquisa da Embrapa Cerrados aponta que 74% dos produtores rurais adotam plantas de cobertura. Benefícios incluem melhoria do solo e retenção de umidade
A utilização de plantas de cobertura tem se consolidado como uma prática essencial para a sustentabilidade agrícola no Brasil. Uma pesquisa de opinião realizada pela Embrapa Cerrados revelou que 74% dos produtores que responderam ao questionário utilizam plantas de cobertura em suas propriedades. Além disso, entre os 26% que ainda não adotam a prática, quase todos estão abertos a considerar seu uso. Os dados reforçam o crescente reconhecimento dos benefícios dessa tecnologia para a melhoria do solo e a produtividade agrícola.
O levantamento foi realizado entre novembro e dezembro e contou com 709 respostas. O foco da análise recaiu sobre os 300 participantes identificados como produtores rurais (38%) e gerentes agrícolas (4%). Os demais entrevistados incluíram representantes de universidades e instituições de ensino, consultores técnicos, profissionais de assistência técnica e extensão rural, além de técnicos de empresas privadas ligadas ao setor agropecuário.
Marcelo Ayres, pesquisador da Embrapa Cerrados e coordenador do estudo, avaliou os resultados como positivos, considerando que foi a primeira experiência com esse tipo de sondagem direta junto aos públicos-alvo da tecnologia. “Nosso objetivo é entender os critérios que influenciam a adoção das plantas de cobertura, o nível de conhecimento sobre seus benefícios e os desafios enfrentados pelos produtores. Para uma primeira abordagem, conseguimos informações importantes que orientarão nossas futuras ações”, explicou.
A pesquisa faz parte do projeto “Fertilize 4 Life”, que busca reduzir a dependência de fertilizantes por meio do uso de leguminosas como plantas de cobertura em sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP). A coleta de dados foi viabilizada por meio de reportagens divulgadas na imprensa, cooperação com instituições ligadas ao setor agropecuário e apoio de diversos centros de pesquisa da Embrapa, além de contatos diretos via WhatsApp.
Metade dos entrevistados cultiva plantas de cobertura em uma área correspondente a 40% da extensão agrícola de suas propriedades
Entre os produtores que já adotam plantas de cobertura, os dados mostram que a prática está consolidada há bastante tempo: aproximadamente 50% utilizam essa estratégia há mais de cinco anos, enquanto 30% a adotam há mais de dez anos. Além disso, metade dos entrevistados cultiva plantas de cobertura em uma área correspondente a 40% da extensão agrícola de suas propriedades.
As espécies mais utilizadas refletem a busca por eficiência agronômica. A braquiária ruziziensis foi a mais citada (57%), seguida pelo milheto (54%) e pelo nabo-forrageiro (37%). Essas culturas têm papel estratégico na recuperação do solo e na diversificação dos sistemas produtivos. Paralelamente, as principais culturas comerciais cultivadas pelos entrevistados são milho e soja, demonstrando que a rotação de culturas e o uso de cobertura vegetal estão integrados aos sistemas de produção predominantes no país.
BENEFÍCIOS: A adoção de plantas de cobertura está associada a uma série de benefícios agronômicos. Segundo os produtores rurais e gerentes agrícolas que participaram do estudo, os principais impactos positivos incluem melhoria na estrutura física do solo, retenção de umidade, redução da compactação e aumento da matéria orgânica. Essas melhorias são determinantes para elevar a produtividade e reduzir a dependência de insumos externos, como fertilizantes químicos.
A pesquisa também investigou como os produtores utilizam as áreas cultivadas com plantas de cobertura. Os dados apontam que 40% dos entrevistados aproveitam essas áreas para pastejo, promovendo a integração entre lavoura e pecuária. Outros 7% utilizam para produção de silagem e 2% para fenação. Esse aproveitamento mostra a versatilidade das plantas de cobertura dentro dos sistemas produtivos, contribuindo para a eficiência econômica das propriedades.
Outro ponto destacado pelo levantamento foi a origem das sementes utilizadas para a cobertura vegetal. Quase 70% dos produtores adquirem sementes para plantio, enquanto 34% produzem sua própria semente. Esse dado sugere uma demanda significativa pelo mercado de sementes voltadas para cobertura vegetal. Essa informação sugere um grande mercado para sementes das espécies de plantas de cobertura, avaliou Ayres.
Os entrevistados também apontaram fatores determinantes para ampliar a área com plantas de cobertura em suas propriedades. A disponibilidade de sementes comerciais em quantidade adequada, qualidade assegurada e procedência conhecida foram listadas como requisitos essenciais. Além disso, os produtores ressaltaram a necessidade de informações mais detalhadas sobre quais espécies utilizar em diferentes condições edafoclimáticas.
PERFIL GEOGRÁFICO E AT: o levantamento revelou uma ampla representatividade regional, com destaque para Minas Gerais, seguido por Paraná, São Paulo e Goiás. A predominância de respostas mineiras surpreendeu os pesquisadores. Esse dado foi uma surpresa para mim. Pensei que receberíamos mais participação dos estados do Centro-Oeste, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, comentou Ayres.
Sobre o acesso à assistência técnica, os produtores demonstraram uma diversidade de opções. Parte dos entrevistados recebe suporte de consultores particulares ou técnicos vinculados a empresas de insumos, enquanto outros contam com equipes próprias dentro das fazendas. No entanto, 21% dos respondentes afirmaram não receber nenhum tipo de assistência técnica, indicando um ponto de atenção para o desenvolvimento de políticas de suporte ao produtor.
A pesquisa teve como um de seus principais objetivos avaliar o nível de adoção de plantas de cobertura nos sistemas agrícolas e em pastagens sob integração lavoura-pecuária. No entanto, os pesquisadores destacam a importância de continuar acompanhando essa evolução. “Temos uma parceria com a USDA [Agricultural Research Service] e a Universidade da Flórida. Lá eles realizam pesquisa semelhante há mais de dez anos, com atualizações anuais. Aqui, também pretendemos realizar essa sondagem periodicamente”, afirmou Ayres.
O relatório final da pesquisa está em fase de elaboração e trará uma análise detalhada de todos os dados coletados. Trata-se de “um riquíssimo conjunto de informações que ajudarão a orientar políticas públicas, novas pesquisas e ações de comunicação e transferência de tecnologia, além de subsidiar o desenvolvimento de práticas agrícolas para reduzir as dificuldades de manejo nos sistemas de produção em todo o país”, concluiu o pesquisador.
A continuidade desse monitoramento contribuirá para a tomada de decisões estratégicas por parte dos produtores, empresas do setor e órgãos públicos, reforçando o papel das plantas de cobertura na construção de sistemas produtivos mais resilientes e sustentáveis.