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Revista3-8

Da pena ao nanômetro: uma conversa que atravessa séculos

IA possibilita encontro inusitado. “A Mesa do Conhecimento”, reúne Vasily Dokuchaev, Friedrich Rinne, Albert Atterberg e Norio Taniguchi
IA possibilita encontro inusitado. “A Mesa do Conhecimento”, reúne Vasily Dokuchaev, Friedrich Rinne, Albert Atterberg e Norio Taniguchi

POR DIEGO SIQUEIRA A evolução das ferramentas nunca substituiu a criatividade humana. Quando a pena e o nanquim foram sucedidos pela máquina de escrever, muitos temeram pelo fim da escrita manual. Anos depois, disseram o mesmo sobre o streaming e o cinema frente às fitas VHS e aos DVDs. Mas a realidade é outra: a IA não elimina a criatividade — ela a amplia, a reinventa e a conecta ao que parecia impossível.

Inspirado por essa reflexão, produzi com apoio da IA Veo 3 da Gemini uma cena que homenageia quatro cientistas que marcaram a história da humanidade, especialmente da ciência do solo, da engenharia e da nanotecnologia.

Chamei a cena de “A Mesa do Conhecimento”, simulando um encontro simbólico entre Vasily Dokuchaev, Friedrich Rinne, Albert Atterberg e Norio Taniguchi. Com as fotos reais dos cientistas, criei retratos falados com a IA para ser a base do vídeo.

Dokuchaev, do lado esquerdo, esfarela uma amostra de solo seco entre os dedos. É 1883 quando publica sua obra sobre a pedologia, fundando a pedologia junto com os fatores e processos de formação do solo. Ao lado dele, Atterberg segura uma curva de plasticidade do solo — fórmula que ele refinaria na Suécia por volta de 1911 criando as classes texturais que se mantêm base na engenharia agronômica, civil e ambiental até hoje.

Do lado de Atterberg, está Rinne que manipula uma estrutura mineral por difração, como fez na Alemanha em 1921. Essa técnica avançou a cristalografia e revelou detalhes ocultos da hematita e da goethita, as mesmas formadas pelos fatores e processos de formação criados por Dokuchaev, e as mesmas que não eram capazes de serem separadas pelo método de Atterberg.

No canto direito do vídeo, Taniguchi, do Japão, acompanha tudo com serenidade, enquanto projeta em um tablet a nanoestrutura de uma partícula de solo — conceito que ele nomearia “nanotecnologia” em 1974.

A distância entre a descoberta mais antiga de Dokuchaev e a mais recente de Taniguchi é de 91 anos. Os meios de comunicação que cada um usou vão de manuscritos e correspondências postais a conferências técnicas presenciais.

Na cena final, os quatro brindam, silenciosamente. Não há falas. Mas há elo. A ciência, que sempre foi feita de pontes entre ideias, agora também pode construir pontes visuais entre séculos.

Segundos que resumem quase um século da gênese do solo à nanotecnologia: uma conversa que atravessa séculos, e mesmo assim, ainda em 2025, muitos não conhecem essa história seja por IA, VHS, DVDs e o bom e velho papel. Como pensar o futuro sem conhecer as boas e verdadeiras histórias?

 

Artigo publico originalmente o perfil do autor no LinkedIn.