
POR DIEGO SIQUEIRA — Recentemente, vi uma entrevista do parceiro FLAVIO BOREM no canal Tomei Gosto, com Mario Marques. Entre conversas e cafés, ficou claro: o café é mais do que uma bebida – é parte da cultura brasileira. Presente desde o nascer do sol até aos encontros sociais, sempre ali, discreto e essencial.
Durante anos, acreditava-se que o melhor café era exportado, enquanto por aqui ficavam os grãos inferiores. Por razões culturais e econômicas, nos habituamos à torra intensa, moagem fina e sabor forte. Nos restaurantes, pagamos pela água, mas o “cafezinho” é cortesia – reforçando a ideia de que é barato.
Mas o café sempre foi nobre – não um luxo. Preparado em casa, um café especial de 100 ml, rico em antioxidantes e aromas, custa apenas R$ 0,012/ml, menos de 2 centavos o ml. Um quilo rende 150 xícaras. Dá para tomar cinco por dia durante um mês, se não houver desperdícios, como já fazemos no café “forte”.
Inspirado pela conversa entre Flávio e Mário, fiz algumas contas. Comparei o custo por ml do café especial com outras bebidas não alcoólicas que consumimos. Sei que podem haver variações, mas parti desses números:
Concordo com Borém: precisamos repensar conceitos – inclusive o valor do conhecimento. Valor não é preço. No fim de 2024, escrevi “O preço das coisas: o valor por quilo”, comparando o quilo de um drone ou telemóvel com o de um trator. A lógica aplica-se também ao saber.
Preço, valor e propósito são diferentes. Tive a oportunidade de estudar desde os 6 anos. Hoje, com 41, são 35 anos de aprendizado contínuo. Mesmo com pausas, isso dá cerca de 70 mil horas.
Um neurocirurgião passa por cerca de 23.000 horas de formação. Malcolm Gladwell, conhecido por traduzir ciência para as pessoas, como estamos fazendo agora enquanto você lê, fala das 10.000 horas para atingir excelência – conceito que partilho aqui, como Borém na entrevista.
Tal como o café enfrenta riscos (geadas, secas, guerras), o conhecimento também exige escolhas e sacrifícios. Valorizar o saber é tão importante quanto aplicá-lo com critério.
Não basta comprar um trator: é preciso saber onde o solo naturalmente irá se compactar mais rápido quando o trator passar
Não basta comprar um trator: é preciso saber onde o solo naturalmente irá se compactar mais rápido quando o trator passar. Não é só aplicar adubo ou biológico: é saber onde posicionar no solo para melhor desempenho. Um antibiótico para bactérias gram-positivas pode custar R$ 20 – o mesmo para gram-negativas. Qual usar? Esse conhecimento não vale R$20, pode custar uma vida.
O conhecimento em ciência do solo precisa ser valorizado e respeitado! Porque, no fim das contas, conhecimento não pesa na balança – mas muda o peso das decisões.
Este conteúdo foi publicado primeiro no perfil do autor no LinkedIn.