YouTube
Revista3-8

Capacidade de armazenagem nas fazendas cresce 72% em 15 anos, mas déficit logístico persiste

Amazenagem rural avança, mas estrutura nacional ainda não acompanha produção de grãos

Entre colheitas cada vez mais robustas e a necessidade urgente de escoar volumes crescentes, produtores rurais têm apostado em ampliar a capacidade de armazenagem dentro das próprias propriedades. Segundo o Anuário Agrologístico 2025, publicado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil alcançou um avanço de 72,13% na capacidade de armazenagem estática em áreas rurais nos últimos 15 anos.

Em 2010, esse número era pouco superior a 20 milhões de toneladas. Já em 2025, chega a mais de 35 milhões de toneladas. O levantamento revela, no entanto, que a partir de 2023 essa expansão desacelerou. A curva de crescimento perdeu força, mesmo com o esforço dos produtores em garantir maior autonomia no armazenamento pós-colheita.

Considerando toda a estrutura brasileira de armazenagem, a expansão foi de 52,49% no mesmo período, passando de cerca de 140 milhões para 212,1 milhões de toneladas. O estado do Mato Grosso concentra sozinho 33% da capacidade nacional, seguido por Rio Grande do Sul, com 19%, e Paraná, com 18%.

Apesar do aumento, o armazenamento feito nas propriedades ainda representa apenas 16,8% do total. A Conab chama atenção para o “descompasso” verificado principalmente em regiões de fronteira agrícola, como Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e Sealba (Sergipe, Alagoas e parte da Bahia). Nesses territórios, a evolução da produção não foi acompanhada pela infraestrutura necessária para comportar os grãos.

“A infraestrutura existente, especialmente em áreas emergentes, ainda não é capaz de acompanhar plenamente essa transformação, o que resulta em sobrecarga dos armazéns, aumento de custos logísticos e maior vulnerabilidade à perda de qualidade dos produtos pós-colheita”, aponta o documento.

O levantamento também mostra que, apesar da tendência de redução na diferença entre a produção da primeira safra e a capacidade instalada, em 2023 a colheita superou em 12 milhões de toneladas o volume que os armazéns conseguiam absorver.

“O dado acende um sinal de alerta quanto a possíveis gargalos logísticos no escoamento da produção nos próximos anos”, alerta a Conab.

Para o presidente da estatal, Edegar Pretto, o pico da colheita da segunda safra exige atenção redobrada, embora o déficit de capacidade estática se configure como um gargalo relevante, até o momento isso não tem sido um fator impeditivo ao escoamento da safra. A expectativa dos técnicos da Conab é a de intensificação da pressão operacional no pico da colheita da segunda safra, o que pode nos exigir a adoção de medidas contingenciais e estratégias de mitigação. Estamos preparados caso seja necessário.

Canais de escoamento ganham protagonismo

O anuário também avalia os principais corredores de escoamento da produção agrícola. Em 2024, a região Norte foi responsável por 38% do envio de soja e milho ao mercado externo. Quando se considera o total movimentado pelos portos do Arco Norte, de Santos (SP) e de Paranaguá (PR), o percentual chega a 81,12% das exportações dessas commodities.

Segundo a Conab, o Arco Norte vem ganhando destaque pela menor distância até os polos produtores e pelas possibilidades logísticas mais diversificadas.

Os portos desta região têm se tornado uma alternativa com um custo de transporte bem abaixo do que quando o escoamento era direcionado apenas pelos tradicionais portos de Santos e Paranaguá – tanto pela distância menor, quanto pela opção de se utilizar intermodalidade (rodovia-hidrovia ou rodovia-ferrovia), de acordo com Pretto.

Em 2024, o Arco Norte foi responsável por exportar 57,6 milhões de toneladas de grãos. Um dos exemplos mais expressivos é o Porto de Itaqui (MA), onde o volume exportado de milho e soja saltou de 11,21 milhões de toneladas em 2020 para 20,22 milhões de toneladas em 2024 — um crescimento de 80,3%.

Já em Barcarena (PA), o avanço registrado nos últimos cinco anos foi de 70,3%. A análise destaca ainda a relevância da logística reversa.

“A redução nos valores dos fretes, representada pela menor distância entre as importantes áreas de produção e os portos e pela internalização dos fertilizantes por ali, contribuem para a consolidação dessa saída”, reforça o documento da Conab.

Com a tendência de crescimento da produção agrícola brasileira, as melhorias em infraestrutura, tanto em armazenagem quanto em transporte, seguem no centro das discussões entre governo e setor produtivo. A manutenção da competitividade no campo passa diretamente pela eficiência desses dois pontos.