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Revista3-8

Campos Altos é destaque na entrega da Medalha Alysson Paolinelli em solenidade do Governo de Minas

Crédito: Seapa/MG
Crédito: Seapa/MG

Produtor de café representa o Cerrado Mineiro entre os homenageados pela primeira edição da medalha dedicada a quem contribui com o desenvolvimento do agro em Minas Gerais

O município de Campos Altos, no Cerrado Mineiro, esteve entre os destaques da primeira edição da Medalha de Honra Ministro Alysson Paolinelli, entregue neste domingo (29/6) pelo Governo de Minas. A solenidade foi realizada em Bambuí, cidade natal do ex-ministro, no Centro-Oeste do estado.

Entre os dez agraciados, o produtor José Maria de Oliveira — conhecido como Marimbondo, da empresa Café Campos Altos, foi reconhecido na categoria grande produtor. Com atuação consolidada na cafeicultura, o empresário representa um polo relevante para a produção de grãos especiais na região e reforça a posição do município entre os principais centros da cafeicultura mineira.

A cerimônia foi conduzida pelo secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Thales Fernandes, que ressaltou o simbolismo da premiação. “Hoje, entregamos a primeira edição da medalha Alysson Paolinelli para empresas, entidades e pessoas que têm se destacado no agro mineiro. Nosso agro que tem sido uma das principais economias do estado, com a contribuição dessas entidades que foram agraciadas com a medalha e levam todo o legado do doutor Alysson Paolinelli, que realmente foi um homem que mudou o agro, não só em Minas Gerais, mas no Brasil e no mundo”, afirmou.

A Praça Rui Santos, no centro de Bambuí, foi o local escolhido para a homenagem. A medalha, criada em 2023 por meio da Lei 24.582 e regulamentada pelo Decreto nº 48.859, tem como objetivo reconhecer a atuação de lideranças comprometidas com o desenvolvimento sustentável e a valorização do setor agropecuário. A honraria será entregue anualmente, sempre em 29 de junho, data de falecimento do ex-ministro, em diferentes municípios mineiros com relevância no agro ou com ligação direta à trajetória de Alysson Paolinelli.

A escolha dos nomes é definida a partir de listas tríplices elaboradas pelo presidente do Conselho Permanente da Medalha Ministro Alysson Paolinelli. O grupo se reúne, anualmente, no dia 10 de maio, para definir os agraciados de cada uma das dez categorias previstas.

Homenageados de 2024

Além do produtor de Campos Altos, receberam a medalha:

  • Rubnei Santos Gomes (Rubi Queijaria), na categoria pequeno produtor
  • Cézar Ramos Júnior (Empresa Natucentro), médio produtor
  • Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), na categoria pesquisa e inovação
  • Programa Globo Rural, na área de jornalismo e comunicação agro
  • Cooxupé – Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé Ltda., entre as entidades agropecuárias
  • Luís Roberto Batista, professor da UFLA, em ciências aplicadas à agropecuária
  • Antônio Carlos Arantes, deputado estadual, entre os representantes públicos
  • Rocca – Doce de Leite, reconhecida como agroindústria
  • Hugo Faria Leite (Queijaria Roça da Cidade), como jovem produtor

A trajetória de José Maria de Oliveira

Com raízes na cafeicultura desde a infância, José Maria de Oliveira vivenciou de perto os desafios enfrentados por trabalhadores do campo. Aos sete anos, sua família foi obrigada a deixar a fazenda onde vivia e passou a trabalhar como diarista em propriedades vizinhas. A experiência precoce com a base da cadeia produtiva contribuiu para a resiliência e para a visão estratégica que moldaria sua trajetória futura.

Aos 17 anos, mudou-se para Belo Horizonte. Trabalhou como cobrador de ônibus e depois em uma farmácia, onde se destacou na área comercial. Apesar do sucesso na capital, manteve o desejo de retornar a Campos Altos e investir em cafeicultura. Em 2004, concretizou o sonho com a aquisição da Fazenda Serrinha, marco inicial da Café Campos Altos.

Enfrentando pressões de mercado e baixa valorização do produto, José Maria quase desistiu da atividade. Em 2014, decidiu construir seu próprio moinho seco, assumindo o controle integral do processo produtivo. Um ano depois, fundou a Café Campos Altos – Coffee Export, no Brasil, e a Our Coffees, na Califórnia (EUA), com atuação também na Alemanha. Esse modelo verticalizado eliminou intermediários, garantindo rastreabilidade e valor agregado aos cafés.

O contato com o mercado internacional influenciou sua adoção de métodos avançados, como fermentação controlada e secagem em camas africanas. A empresa produz cafés 100% Arábica, com destaque para a variedade Catuaí Vermelho, e atinge pontuações superiores a 90 pontos, conforme metodologia da Specialty Coffee Association (SCA).

O negócio tem base familiar. A esposa, Ebe, também descendente de colhedores de café, e a filha, Nathalia de Oliveira Martins, atuam diretamente na gestão. Nathalia é CEO da Our Coffees, e seu marido, Ronaldo, é COO, responsável pelas operações de exportação. A sucessão empresarial está estruturada com foco em continuidade e expansão. A família também mantém a Fazenda Santa Luzia, adquirida em 2006.

José Maria também exerce o cargo de Secretário Municipal de Governo de Campos Altos, reforçando seu vínculo com o desenvolvimento regional. A marca Café Campos Altos foi apresentada como presente diplomático em ocasiões como a missão oficial à China, em 2024, ao lado do Governador Romeu Zema, e em cerimônia no Vaticano, com o Papa Francisco, em 2023Café Campos Altos e o terroir do Cerrado Mineiro

Produção em São Gotardo e Campos Altos

A produção da Café Campos Altos é concentrada entre os municípios de Campos Altos e São Gotardo, na Mesorregião do Alto Paranaíba / Triângulo Mineiro. A altitude média de 1.185 metros, combinada ao clima subtropical e chuvas bem distribuídas, favorece a produção de grãos densos e cafés com perfis sensoriais marcantes. A empresa utiliza métodos naturais, honey e lavados sob fermentação controlada.

Os cafés são descritos como doces, com notas de caramelo, chocolate, frutas maduras, baunilha e mel, acidez moderada, corpo médio a alto e finalização prolongada. A torra é feita em micro-lotes, disponível nas versões média e média-escura, em grãos ou moído.

Campos Altos lançou em 2023 uma marca território, em parceria com a ACCA e o Sebrae Minas, com a proposta de comunicar ao mercado uma “cafeicultura naturalmente especial”. Essa estratégia coletiva reforça a diferenciação regional e valoriza a origem dos cafés produzidos na região.

O legado de Alysson Paolinelli

Referência em política agrícola, Alysson Paolinelli teve papel central na modernização da agricultura brasileira. Como ministro da Agricultura entre 1974 e 1979, liderou o processo que transformou o Cerrado brasileiro em território produtivo. Foi responsável por políticas públicas voltadas à ciência, tecnologia e pesquisa agropecuária.

Em sua trajetória, participou da criação da Embrapa Cerrados e estruturou programas de incentivo à formação de pesquisadores. Também presidiu entidades como a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e a Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho).

No estado de Minas Gerais, comandou a Secretaria de Agricultura em três períodos distintos. Em sua primeira gestão, entre 1971 e 1974, articulou o Programa Integrado de Pesquisa Agropecuária do Estado de Minas Gerais (Pipaemg) e criou a Epamig. Posteriormente, de 1991 a 1994 e de 1995 a 1998, coordenou uma nova matriz produtiva com ênfase em sustentabilidade, incentivando políticas de crédito e tecnologia voltadas à agricultura.

Paolinelli também esteve à frente da criação do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) e recebeu, em 2021 e 2022, indicações ao Prêmio Nobel da Paz, em reconhecimento a sua contribuição para a segurança alimentar no Brasil e no mundo.