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Revista3-8

Agronegócio impulsiona crescimento econômico e interiorização do desenvolvimento no Brasil, afirma pesquisadora da Esalq/USP

Setor responde por 23,5% do PIB e por 26% dos empregos no País, gerando impactos diretos e indiretos na economia e no equilíbrio regional, aponta Nicole Rennó Castro em artigo no Portal Cepea

Em artigo publicado na seção de Opinião do Portal Cepea, Nicole Rennó Castro, professora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), analisa o papel do agronegócio como instrumento de desenvolvimento socioeconômico no Brasil. Ao longo do texto, Rennó apresenta dados e reflexões sobre como o setor tem contribuído não apenas para o crescimento econômico, mas também para a interiorização do desenvolvimento e para a geração de empregos em diversas regiões do País.

“Discuto brevemente o potencial do agronegócio como instrumento para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil, focando na contribuição efetiva do setor nos últimos anos ou décadas”, afirma Nicole Rennó Castro.

Pesquisadora Nicole Rennó (Crédito: Esalq/USP)
Pesquisadora Nicole Rennó (Crédito: Esalq/USP)

A autora observa que a visão tradicional, segundo a qual a agropecuária cumpria apenas uma função de suporte ao crescimento industrial, vem sendo revista diante de novos desafios globais e de uma mudança na própria concepção do que se entende por desenvolvimento. Essa mudança de perspectiva passou a incorporar temas como segurança alimentar, uso eficiente de recursos, redução da pobreza e preservação ambiental.

Nicole Rennó Castro ressalta que o agronegócio passou a ser percebido como um setor capaz de gerar impactos econômicos em diversas frentes, além do campo. Ela lembra que, historicamente, o Brasil vivenciou um processo de transformação econômica no qual a participação direta da agropecuária no Produto Interno Bruto (PIB) diminuiu progressivamente.

Em 1950, o PIB agropecuário representava mais de 20% do PIB nacional. Essa participação encolheu rapidamente até os anos 1990 e, desde então, tem se mantido em torno de 5,5%, conforme dados das Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O setor também perdeu relevância relativa no mercado de trabalho: em 1985, 23,4 milhões de pessoas estavam ocupadas na agropecuária; em 2017, esse número caiu para 15,1 milhões. Em 2024, a agropecuária respondeu por 6,5% do PIB brasileiro e por 8% das ocupações no País, enquanto no mundo, em 2022, o setor representava 4,3% do PIB e 26% dos empregos, segundo o Banco Mundial.

Para cada R$ 1,00 de PIB agregado pela agropecuária, R$ 2,8 adicionais foram gerados fora da porteira por atividades industriais e de serviços vinculadas ao campo

Nicole Rennó Castro enfatiza, no entanto, que o impacto do agronegócio brasileiro não se limita ao campo. Quando se considera o agronegócio em sentido amplo — incluindo atividades industriais e de serviços ligadas à agropecuária —, os números ganham outra dimensão. Em 2024, o PIB do agronegócio alcançou R$ 2,76 trilhões, representando 23,5% do PIB nacional, e gerou 28,2 milhões de empregos, de acordo com dados do Cepea e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

“Para cada R$ 1,00 de PIB agregado pela agropecuária, R$ 2,8 adicionais foram agregados fora da porteira por atividades industriais e de serviços vinculadas à agropecuária; e para cada emprego gerado no campo, outro 1,2 emprego foi gerado fora da porteira”, explica a pesquisadora. Esse efeito multiplicador reflete a força das cadeias produtivas e seu papel na dinamização da economia brasileira.

Outro ponto central abordado por Nicole Rennó Castro é o impacto regional do agronegócio. Ela destaca que o PIB brasileiro segue fortemente concentrado em algumas regiões. Em 2022, por exemplo, o estado de São Paulo respondeu por 30% do PIB nacional, e seis estados concentraram quase 70% da riqueza do País. Apesar dessa concentração, a agropecuária tem sido um vetor de crescimento em estados antes menos industrializados.

A partir da análise de dados das Contas Regionais do IBGE, a autora demonstra que, entre 2002 e 2022, os estados que mais avançaram economicamente foram, em sua maioria, aqueles em que a agropecuária teve papel relevante. Mato Grosso é apontado como um exemplo emblemático: nesse período, o PIB agropecuário do estado cresceu 325,8%, enquanto o PIB total avançou 146,1%. A agropecuária respondeu diretamente por 48,2% desse crescimento. “Nota-se, pela análise da Tabela, que a contribuição da agropecuária foi determinante para grande parte dos estados que tiveram melhor desempenho econômico no período analisado”, escreve Nicole Rennó Castro.

A pesquisadora ressalta que o dinamismo do agronegócio não se limita ao setor primário. O crescimento da agropecuária tem impulsionado a instalação de agroindústrias e de empresas de serviços vinculados ao campo, gerando empregos formais e estimulando o desenvolvimento de cadeias produtivas no interior do Brasil. Esse movimento, segundo ela, cria ciclos virtuosos ao fortalecer a integração entre produção primária, indústria e serviços.

A partir de dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Nicole Rennó Castro mostra que, em 2023, as agroindústrias geraram 4,1 milhões de empregos formais no País, um crescimento de 31% em relação a 2006. O destaque ficou com a região Centro-Oeste, onde o número de empregos agroindustriais aumentou 60% no período, passando de 307 mil para 490,8 mil postos de trabalho.

Embora o Sudeste e o Sul ainda concentrem a maior parte das agroindústrias — 38,1% e 31,5% dos empregos em 2023, respectivamente —, essa concentração é menor do que na indústria de transformação não agropecuária. No agregado nacional, a agroindústria responde por 37% dos empregos da indústria de transformação, mas essa participação alcança 60% no Centro-Oeste e 45% na região Norte.

Nicole Rennó Castro defende que a expansão do agronegócio, ao estimular a interiorização da agroindústria e de serviços relacionados, contribui para uma distribuição mais equilibrada das oportunidades de crescimento econômico em todo o território brasileiro. O setor, segundo ela, tem sido decisivo tanto na geração direta de riqueza e empregos quanto na indução de investimentos e na promoção de melhorias nas infraestruturas locais.

Ao concluir, a autora reforça: “Esses dados contribuem para demonstrar a importância do agronegócio para interiorização do desenvolvimento econômico no Brasil e, então, para uma distribuição mais equilibrada das oportunidades de crescimento pelo vasto território nacional”.

O artigo completo, assinado por Nicole Rennó Castro, professora da Esalq/USP e pesquisadora do Cepea, está disponível na seção de Opinião do Portal Cepea: leia aqui!