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A resposta das plantas: produtividade padronizada sob a ótica do tempo. Atingimos o teto de produtividade?

Estudo mostra como a tipologia das argilas influencia a produtividade da soja (Imagem gerada por IA/ChatGpt)
Estudo mostra como a tipologia das argilas influencia a produtividade da soja (Imagem gerada por IA/ChatGpt)

POR DIEGO SIQUEIRA — Desde 2013, após cada aula ou palestra que dou, uma pergunta se repete: “Por que ali produziu mais? Por que aqui, menos? E por que no ano passado foi diferente na mesma fazenda?”

Junto aos porquês, surgem comentários contrastantes: “Já testei e não funcionou!” e, logo depois, “Pois comigo deu muito certo!”. Entre dúvidas e certezas, gosto de olhar os números – eles revelam histórias invisíveis.

Não trato aqui de recordes como os do CESB – Comitê Estratégico Soja Brasil, com mais de 140 sacas de soja por hectare. Refiro-me a padrões históricos, extraídos da CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento e da Ibá | Indústria Brasileira de Árvores, que mostram o comportamento da produtividade ao longo do tempo nos estados referência de cada cultivo.

O uso do z-score permite enxergar além da média: mostra quando um ano se encontra acima ou abaixo da produtividade histórica. Valores acima de +1 indicam anos extraordinários (manejo assertivo e clima favorável). Abaixo de -1, anos críticos – por clima, pragas ou uso inadequado de tecnologias.

Na soja, cerca de 12,5% dos anos foram excepcionais, coincidindo com a adoção de novas tecnologias. A cana em SP teve equilíbrio: 12,5% de anos ótimos e 12,5% ruins. O eucalipto apresentou mais anos abaixo da média (52%). Já o pinus teve 25% de anos bons, possivelmente em razão do manejo ajustado. Esses dados indicam que, apesar do avanço tecnológico, talvez a grande transformação ainda esteja na compreensão do solo.

Nos últimos 10 anos, o café conilon cresceu 31,6% em produtividade, milho e algodão 15%, soja 10%, cana 7%, amendoim 4%, eucalipto 3% e pinus apenas 0,3%, dentro do contexto analisado. Em termos de incrementos anuais no período, o conilon alcançou 3,2%, enquanto o restante variou de 1,5% a menos de 0,3% ao ano.

Utilizando dados de diferentes respostas de manejo na soja, percebo que locais com certos minerais (tipos de argilas do solo) possuem tetos produtivos distintos, exigindo manejos ajustados.

Muitos produtores e técnicos ainda apresentam dificuldade com conceitos básicos, como classe textural (que define o tamanho das partículas do solo, não o peso da terra). Se isso já gera confusão, imagine novas ferramentas aplicadas sem a base correta de entendimento.

Tecnologias como condutividade elétrica, infravermelho, RMN, SAR e suscetibilidade magnética são pouco compreendidas e, por vezes, colocadas no mesmo balaio.

É daí que surgem os verdadeiros “porquês” e frases como: “Implantei e deu certo!”. Mas isso exige mais que tecnologia: também requer compromisso de quem aplica. Como um médico — sem retorno e adesão ao tratamento, não há resultado. Na agricultura, não é diferente.

Você que chegou até aqui na leitura, o que achou? Encontrou algum padrão nos gráficos ou pensa diferente? Fique à vontade para interagir.

Abaixo, partilho exemplos reais de tecnologias emergentes aplicadas por quem se comprometeu com a sua implementação.

Alta produtividade da soja: ajustando o manejo à tipologia das argilas

A produção de proteína é vital para nossas vidas. Segundo a FAO, até 2050, a demanda por cereais fonte de proteína ultrapassará 3 bilhões de toneladas, com parte expressiva vindo dos países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

No Brasil, a soja passou por transformações tecnológicas relevantes: mecanização agrícola na década de 1970, cultivares mais produtivas na década de 1980 e transgênicas na década de 1990. Técnicas como Plantio Direto, ajustes nos parâmetros de análise e biotecnologia foram e continuam sendo essenciais.

Como Engenheiro Agrônomo, compreendi a complexidade da produtividade da soja. Fatores como distribuição de chuvas, temperatura, luz solar, nutrientes, escolha da cultivar, resistência a doenças, momento ideal de plantio e qualificação da mão de obra, entre outros aspectos, influenciam na produção de sacas, proteína e óleo. Como cientista do solo, observo padrões naturais, incluindo a tipologia das argilas como elemento-chave no processo produtivo. Este artigo apresenta um resumo de resultados sobre como a tipologia da argila influencia a produtividade da soja.

O Grupo AgroGN, liderado por Armando Fabio Abreu Nascimento Filho, aumentou a produtividade de 62 para 93 sacas/ha, com alguns talhões atingindo 100 sacas/ha, ao ajustar o manejo conforme a tipologia das argilas. A base foi o diagnóstico e mapeamento da tipologia das argilas para: escolha da cultivar, densidade de plantio, tipo de fonte para adubação, entre outras práticas.

Instituições como Aprosoja Brasil, ABIOVE – Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais, ANEC – Associação Nacional dos Exportadores de Cereais, universidades e centros de pesquisa têm papel essencial na evolução da produção de proteína e óleo no Brasil. Produtores como Marcos Seitz, João Carlos da Cruz, Alison Hildemberg e Gabriel Bonato mostram que é possível alcançar alta produtividade. Meus sócios Gustavo Zanetti Pollo e Renan Gravena, também engenheiros agrônomos, e eu, acreditamos que a tipologia da argila pode contribuir ainda mais.

A Quanticum desenvolveu uma base de nanotecnologia de solo que oferece insights sobre a relação entre a tipologia das argilas e a produtividade da soja. Em uma análise exploratória cruzando informações da tipologia da argila com histórico do CESB – Comitê Estratégico Soja Brasil, os resultados parciais são, no mínimo, interessantes.

Saiba mais na live “ILPF 68 – Efeitos das Nanopartículas Naturais da Terra na produtividade e qualidade da produção”.

Temos observado, com diferentes parceiros como Grupo Cabo Verde, Graciano Balotta, Novamérica Agrícola, Rafael Dias, Luiz Eduardo Vilela Salgado, entre várias outras áreas pelo Brasil, que a tipificação das argilas influencia diretamente no sucesso das lavouras de soja.