
Associação dos Distribuidores de Insumos Agrícolas do Cerrado chama atenção para os impactos do uso indiscriminado da recuperação judicial no agro, que pode fragilizar a confiança entre produtores, fornecedores e agentes financeiros
O aumento expressivo dos pedidos de recuperação judicial no agronegócio tem causado apreensão entre fornecedores e agentes financeiros. A ADICER (Associação dos Distribuidores de Insumos Agrícolas do Cerrado), por meio do presidente executivo Daniel Martins de Oliveira e do conselho diretor, vem intensificando suas ações desde a publicação do manifesto “Sobrevivendo à crise, um novo olhar para o Produtor Rural além da Recuperação Judicial”, divulgado em fevereiro deste ano. O objetivo é ampliar o entendimento sobre os impactos desse mecanismo e propor alternativas viáveis para garantir a saúde financeira de toda a cadeia.
A utilização inadequada desse instrumento, sob o pretexto de autoproteção, gera efeitos sistêmicos que desestabilizam o mercado ao redor do produtor — Daniel Martins
A preocupação da entidade se apoia em dados concretos. Entre 2022 e 2023, os pedidos de recuperação judicial por produtores rurais cresceram 300%. A tendência continua em alta em 2025, gerando insegurança entre revendas de insumos e cooperativas de crédito. A recuperação judicial, quando mal utilizada, pode comprometer não apenas o produtor, mas também o equilíbrio do ecossistema do agro, afetando a confiança e o fluxo de crédito no setor.
“A utilização inadequada desse instrumento, sob o pretexto de autoproteção, gera efeitos sistêmicos que desestabilizam o mercado ao redor do produtor”, afirma Daniel Martins de Oliveira (foto). Ele acrescenta que a entidade tem sido procurada com frequência por associados em busca de orientação prática, com foco em estratégias de proteção jurídica e critérios mais rigorosos de avaliação de crédito. “Nosso compromisso é antecipar diagnósticos e reforçar a adoção de contratos mais robustos para minimizar riscos”, completa.
A ADICER destaca que muitos produtores acabam optando pela recuperação judicial sem conhecer totalmente as implicações. Isso pode impactar sua reputação junto ao mercado e levar a um aumento no custo do crédito, além de reduzir sua disponibilidade. As recentes mudanças na legislação reforçam essa preocupação, ao excluir instrumentos importantes como Cédulas de Produto Rural (CPR), alienações fiduciárias e créditos extraconcursais do escopo da recuperação judicial, exigindo seu cumprimento mesmo em cenários de crise.
A entidade defende que o acesso ao crédito – indispensável para a produção – depende diretamente da credibilidade do produtor. Por isso, reforça a importância de medidas alternativas, como renegociações privadas, para garantir sustentabilidade e preservar o fluxo financeiro das cadeias produtivas.
A ADICER continua atuando para sensibilizar o setor sobre a necessidade de decisões equilibradas diante das dificuldades financeiras. Por meio de diálogo, mobilização e orientação técnica, a associação reafirma seu compromisso em fortalecer as bases econômicas do agronegócio do Cerrado.