
POR DIEGO SIQUEIRA — A erosão e extinção que ninguém vê: a degradação silenciosa da mineralogia dos solos e das espécies. Perdemos 75 bilhões de toneladas de solo fértil por ano, alerta o Simpósio Global de Erosão. Isso significa apagar séculos de formação mineralógica.
Quase 40% das terras estão degradadas. Uma única chuva intensa pode remover mais de 100 t/ha. Isso é extinção mineralógica. Há quem fale nos testemunhos de gelo, mas ignore os pedogenéticos — ainda mais antigos.
Como criar políticas, inovação ou fundos sem dados que representem o padrão natural do solo?
A erosão não leva apenas o solo: leva também biodiversidade. Cerca de 25% da vida do planeta está no solo. Cada enxurrada arrasta microrganismos essenciais à mineralogia. O foco está distorcido. Insistimos em pH, Ca, Mg, P… e negligenciamos os tipos de argila. Criamos inúmeros modelos, mas seguimos tratando sintomas — não causas.
Até 2050, poderemos perder 1.500 bilhões de toneladas de solo — e com elas, um patrimônio invisível. O tempo geológico não retorna. E isso já interfere diretamente na nossa vida — e interferirá ainda mais.
Não se trata apenas de cobertura vegetal. Os tipos de argilas regulam a troca de calor e o microclima.
Não se trata apenas de enzimas. Trata-se do habitat de bactérias e fungos.
Não se trata apenas de carbono. É preciso compreender as regulações naturais do solo.
Não se trata apenas de chuvas intensas. Trata-se da resiliência do solo.
Não se trata apenas do preço de adubo. A questão está na eficiência dos fertilizantes.
Não se trata apenas de máquinas. Existe um risco natural de compactação.
Não se trata apenas de produtividade. Há compostos bioativos presentes nas plantas.
Não se trata apenas de sensores. É necessário captar o dado certo — e essencial.
Não se trata apenas de matérias-primas. É sobre aproveitar melhor o que já temos na transição energética.
Acho curioso quando afirmam que “não há base científica robusta” para aplicar a mineralogia do solo na agricultura de forma escalável e prática. Na FAPESP, são mais de 150 projetos; na CAPES, quase 4 mil iniciativas; no Scielo, mais de 300 estudos publicados.
Os tipos de argila — mesmo invisíveis — são fundamento da civilização. Moldaram culturas, conectaram povos, sustentam economias. Ignoramos o evidente: o solo não é apenas matéria orgânica. Não cabe impor padrões ao solo, e sim compreender aqueles que a Terra desenvolveu ao longo de milênios. Explorar faz parte — mas é preciso menos vaidade e mais escuta.
Nossos ancestrais cruzaram oceanos sem saber o que encontrariam. Hoje, com inteligência artificial e mapas, hesitamos diante de um rio. E em 2125? Talvez alguém leia este texto e se pergunte: “Era tão evidente… o que eles fizeram?!”
“O homem não descobrirá novos oceanos se não tiver coragem de se afastar da margem”. – André Gide
Artigo publicado primeiro no perfil do autor no LinkedIn.