A suinocultura brasileira registrou crescimento significativo em 2023, movimentando R$ 371,6 bilhões. O consumo interno de carne suína também aumentou, impulsionado por estratégias de marketing e diversificação das exportações
A suinocultura brasileira atingiu um marco impressionante em 2023, movimentando R$ 371,6 bilhões, de acordo com o estudo intitulado “Retrato da Suinocultura Brasileira edição 2024”, realizado pela Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS). Esse valor representa um aumento significativo, com cerca de 77,7% do total proveniente de indústrias frigoríficas e da venda de carne suína ao consumidor final. O 100PORCENTOAGRO entrevistou o Diretor Comercial e Industrial da Suinco, Weber Vaz de Melo, sobre o cenário. A Suinco, localizada em Patos de Minas, é a maior cooperativa processadora de carne suína de Minas Gerais, considerada referência em tecnologia e processamento de carnes.
Atualmente, cerca de 90% dos produtos fabricados pela empresa são destinados ao mercado interno, enquanto 10% são exportados. O estudo da ABCS analisou a atividade suinícola nos últimos nove anos. O panorama geral mostra um crescimento de 130,26% nas exportações do setor na última década. As vendas de carne suína “in natura” para o mercado internacional mais que dobraram, passando de 472.578 toneladas em 2015 para 1,08 milhões de toneladas em 2023.
O presidente da ABCS, Marcelo Lopes, atribuiu esse crescimento à diversificação das exportações, especialmente a partir de 2018, quando a China se tornou um fator importante. Além disso, o consumo interno de carne suína também aumentou. Em 2015, cada brasileiro consumia em média 15,1 quilos de carne suína. Em 2023, esse número subiu para 20,68 quilos, um aumento de 36,9%.
Lopes atribuiu o aumento do consumo per capita ao trabalho de comunicação entre o setor e o varejo, bem como ao significativo aumento do preço da carne bovina de 2020 a 2022. Esse último fator levou a população a buscar alternativas, entre elas a carne suína.
Melhoramento genético
O levantamento também destacou o papel do melhoramento genético dos suínos. Em 2015, o peso médio de uma carcaça era de 87,38 quilos. Já em 2023, essa média subiu para 92,68 quilos. O estudo também analisou o perfil da produção de suínos no Brasil, observando um aumento do modelo de produção integrado, onde as indústrias de processamento de carne mantêm contratos de entrega dos suínos com os produtores. Em 2023, 43,7% das matrizes suínas do plantel brasileiro estavam nesse modelo, um aumento em relação aos 39% em 2015.
Esses dados destacam a importância crescente da suinocultura no Brasil, tanto para o mercado interno quanto para as exportações. Com o contínuo investimento em melhoramento genético e estratégias de marketing eficazes, a suinocultura brasileira está bem posicionada para continuar seu crescimento nos próximos anos.
Contexto regional
Olhando para o contexto regional, a carne suína aparece em terceiro lugar em consumo no país, mas deve apresentar a maior curva de crescimento este ano. A avaliação é do Diretor Comercial e Industrial da Suinco, Weber Vaz de Melo. Para 2024, a expectativa de consumo é de 21 kg por habitante, um aumento de 4% em relação a 2023.
Weber argumenta que a chegada aos 21 kg per capita de consumo não é meramente um dado estatístico, mas sim uma história de progresso que vai além dos números, delineando as mudanças em nossa sociedade e os fatores que impulsionam a evolução de nossos hábitos alimentares.
Weber Vaz de Melo disse que, desde 2017, a Suinco investiu cerca de R$ 160 milhões em melhorias, a projeção da produção é de crescimento sólido nos próximos anos e a expectativa é que o consumo de carne suína ganhe cada vez mais participação na demanda em relação às carnes bovina e de frango. “Além disso, ainda existem mercados potenciais no Brasil a serem explorados para alavancar os números de consumos no Brasil”.
No Brasil, a primeira legislação totalmente voltada para a criação comercial de suínos com foco em bem-estar animal é a Instrução Normativa 113 de 16 de dezembro de 2020. Esta Normativa detalha as boas práticas de manejo e bem-estar animal a serem implementadas com prazos definidos dentro da produção. Complementarmente, surgiu a Portaria 365 de 16 de julho de 2021, com novas atualizações das práticas de manejo pré-abate e abate humanitário trabalhados em conjunto por granjas e indústrias. Weber pontua que, a indústria busca em sinergismo com as granjas produtoras, com base nessas legislações, para atender e garantir de forma objetiva e sustentável um produto final de maior qualidade e valor agregado, preservando o bem-estar ao longo de toda a cadeia produtiva.
“Garantir e estabelecer se o animal está em bem-estar não é uma tarefa fácil. Essa missão torna-se cada vez mais complicada, especialmente diante de todo acesso à informação que o consumidor alvo tem em mãos. Todas as práticas e manejos de bem-estar animal utilizados nas granjas e na indústria devem ser avaliados em conjunto com vários conceitos, levando em conta a necessidade fisiológica do animal; os estados mentais e físicos, como prazer, dor e felicidade e as cinco liberdades: livre de fome e sede; livre de desconforto; livre de dor doença e injúria; livre para expressar os comportamentos naturais da espécie e livre de medo e de estresse. Diante disto, a indústria frigorífica atua desde o início da cadeia de produção até o abate com equipe técnica capacitada para tal atividade, treinando e reciclando processos e atividades de manejo, como também monitorando e verificando todas as práticas de bem-estar animal exigidas”, explica Weber Melo
Crescimento consistente
Desde 2017, a Suinco investiu cerca de R$ 160 milhões em melhorias. Para manter o ritmo de crescimento, a cooperativa está trabalhando para ampliar sua capacidade de abate e processamento. O objetivo é subir paulatinamente de 2,15 mil cabeças para 3,17 mil cabeças por dia, respondendo à demanda.
“Pouco mais de 20 anos após sua fundação, estamos nos preparando para cruzar a marca de R$ 1 bilhão em vendas. Se o número se concretizar, representará um aumento de quase 25% em relação ao faturamento de 2023”, conclui Weber Melo.