
POR LORENA MANGABEIRA — No ritmo da visibilidade feminina no campo, cresce também a necessidade de refletir sobre ego, essência e ecossistema.
Estamos em um tempo de conquistas importantes. As mulheres do agro têm ocupado espaços que antes lhes eram negados. Estão ganhando prêmios, sendo convidadas para eventos, tendo suas histórias divulgadas em campanhas. Isso é motivo de orgulho, sim. Mas também é momento de cuidado. Porque, em meio a essa visibilidade, cabe perguntar: você quer ser holofote ou estar no holofote?
Em mais de seis anos de atuação com mentorias no agro, já acompanhei a trajetória de mais de 100 mulheres. E uma das coisas mais potentes que aprendi é que o verdadeiro reconhecimento não nasce de um palco. Ele nasce da consistência.
Me marcou muito uma produtora que, ao reformar as casas dos funcionários da fazenda, sugeriu colocar um abrigo para proteger as portas. O marido questionou o custo, mas ela viu ali cuidado, acolhimento, dignidade, e ambos chegaram a conclusão de que fazia sentido incluir no plano de reforma.
Esse tipo de decisão revela a essência de uma liderança feminina conectada com o que importa. A mulher não quer apenas produzir — ela quer pertencer, cuidar, transformar. E isso não é romantização. É estratégia regenerativa, é visão de longo prazo.
No livro Empresas que Curam, li sobre dois conceitos que levo comigo: egocentrismo e ecocentrismo. O primeiro é o olhar voltado apenas para si. O segundo coloca o ecossistema no centro. Não significa que olhar para si não seja motivador e necessário, pois só assim evoluimos e crescemos, o que não podemos é deixar o ego ser maior do que o ecosssistema.
Afinal, de que adianta estar no centro dos holofotes se não há raiz para sustentar a árvore? Esse tipo de atitude fragiliza o movimento de quem realmente está ali, dia após dia, construindo com as mãos, o coração e a mente.
Por isso, eu pergunto: qual é o seu legado no agro? O que você quer ter deixado quando olhar para a sua própria história? Qual o impacto que você deseja construir para as próximas gerações?
Construir esse legado exige autoconfiança. E ela não nasce de likes — nasce do propósito. Em minhas mentorias, sempre ouço que a principal entrega é confiança. E fui estudar isso. Joseph Murphy, autor que admiro, fala sobre o poder do subconsciente, da fé, da convicção profunda.
Quando estamos alinhadas com nosso propósito, a vida ganha fluidez. A gente pensa e as coisas acontecem. É como se Deus — ou o nosso Eu Superior — abrisse caminhos. É leveza com direção.
… antes de buscar visibilidade, busque coerência
E aqui deixo uma última reflexão, inspirada por uma frase do pastor Ricardo Agreste: “O amor e a pressa são incompatíveis. Quando a pressa entra, o amor sai.” O agro, os filhos, o trabalho, a vida — tudo isso exige presença. Pressa demais nos desconecta de quem queremos ser.
A trajetória da mulher do campo precisa ser construída com calma e solidez. É no passo a passo, no prato que gira sem cair, no valor que sustenta a ação, que está o verdadeiro poder.
Então, antes de buscar visibilidade, busque coerência. Porque quando você é holofote — por essência, por legado, por verdade — a luz não só te encontra. Ela permanece.