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Rio Grande do Sul acumula perdas bilionárias e tem futuro incerto na agricultura familiar

Chuvas devastam agricultura familiar no Rio Grande do Sul: prejuízo bilionário e futuro incerto (Foto: Diego Vara/Agência Brasil)
Chuvas devastam agricultura familiar no Rio Grande do Sul: prejuízo bilionário e futuro incerto (Foto: Diego Vara/Agência Brasil)

Perdas impactam a subsistência de milhares de famílias. Reconstrução será longa e árdua, exigindo medidas urgentes e investimentos em resiliência

As fortes chuvas que castigaram o Rio Grande do Sul no final do primeiro semestre de 2024 deixaram um rastro de destruição e perdas bilionárias no setor agrícola, especialmente na produção de hortaliças e sementes, conforme alertam Rafael Jorge Corsino, Presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Hortaliças, e Patricia Pereira da Silva, Consultora Técnica da mesma Câmara, em artigo distribuído recentemente à imprensa.

No artigo, Rafael e Patrícia relatam um cenário de desolação na agricultura familiar: o cenário nas principais regiões produtoras do estado é de desolação, com alagamentos, alta umidade e baixa luminosidade comprometendo inclusive os cultivos protegidos, segundo os especialistas. A umidade excessiva não apenas contribui para a proliferação de doenças, como também afeta negativamente o crescimento das plantas. Além disso, os produtores enfrentam a impossibilidade de realizar o manejo adequado das áreas para o preparo do solo, ocasionando perdas de solo e nutrientes.

Os dois falam, ainda, de perdas com impacto na subsistência de milhares de pessoas: quase a totalidade da produção de hortaliças no Rio Grande do Sul é realizada pela agricultura familiar, o que torna o impacto das chuvas ainda mais dramático. Muitos pequenos produtores tiveram suas propriedades completamente destruídas pelas enchentes, com plantações inundadas e animais mortos. O levantamento completo do número de agricultores atingidos ainda não foi possível, pois muitas localidades estão sem acesso devido às estradas danificadas.

Os autores do artigo detalham a situação crítica por cultura, destacando as seguintes perdas:

  • Folhosas: Prejuízo significativo, principalmente nas variedades mais suscetíveis à umidade, como a alface americana.
  • Batata: Colheita prejudicada em algumas regiões, como Campos de Cima da Serra, com 30% da produção ainda sob a terra.
  • Morango: Estruturas de proteção danificadas, plantas perdidas e produção afetada pelo clima úmido.
  • Cenoura: Perdas significativas na safra de verão, na região de Caxias do Sul, prejudicando a colheita e o plantio da safra de inverno.
  • Tomate: 50% de prejuízo na região de Caxias do Sul e 100% em áreas inundadas, como Feliz e São Sebastião do Caí.
  • Cebola e alho: Dificuldades com a germinação das sementes e redução na área a ser cultivada na safra 2024/2025 para a cebola, enquanto o alho terá atraso no plantio.

 

A produção de sementes também foi severamente afetada pelas chuvas, com perdas nas seguintes espécies: acelga, beterraba, brássicas e cebola. Rafael e Patrícia destacam a perda de bulbos de cebola na fase vegetativa, impactando diretamente a produção de sementes na fase reprodutiva. Além disso, o atraso no plantio de sementes de hortaliças de inverno, como salsa, cenoura, coentro, couve e brócolis, também é um motivo de preocupação.

Prejuízos bilionários

Os prejuízos totais no setor agrícola do Rio Grande do Sul são estimados em R$ 2 bilhões, segundo a Confederação Nacional dos Municípios (CNM). O impacto social é ainda maior, com 461 municípios afetados, 155 mortos, 445 desaparecidos e mais de 735 mil pessoas desabrigadas ou desalojadas. A reconstrução será um processo longo e árduo, e os gaúchos precisarão de todo o apoio possível para se reerguerem.

A tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul evidencia a necessidade urgente de medidas para auxiliar os agricultores e garantir a segurança alimentar do estado. Os autores do artigo ressaltam a importância de investir em infraestrutura, pesquisa e desenvolvimento de tecnologias resilientes às mudanças climáticas para minimizar os impactos de eventos extremos no futuro.

Futuro incerto para a agricultura familiar

O futuro da agricultura familiar no Rio Grande do Sul é incerto após as devastadoras chuvas. As perdas bilionárias e os danos à infraestrutura comprometerão a produção de alimentos e a subsistência de milhares de pessoas.

Diante do cenário crítico, especialistas do setor de hortaliças, autoridades e entidades ligadas ao agronegócio estão tomando algumas medidas para auxiliar os produtores rurais gaúchos:

  • Liberação de recursos emergenciais: O governo federal liberou recursos emergenciais para auxiliar as famílias atingidas pelas enchentes. Esses recursos deverão ser utilizados para aquisição de alimentos, itens de higiene e limpeza, e também para o auxílio emergencial no aluguel.
  • Renegociação de dívidas: O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes) anunciou a possibilidade de renegociação de dívidas rurais para os produtores atingidos pelas chuvas. A medida visa aliviar a pressão financeira sobre os agricultores e possibilitar a retomada das atividades produtivas.
  • Doações e campanhas de arrecadação: Diversas entidades estão promovendo campanhas de arrecadação de alimentos, roupas, materiais de construção e sementes para auxiliar os produtores atingidos. A solidariedade da população brasileira é fundamental para amenizar o sofrimento das comunidades afetadas.
  • Programas de apoio à agricultura familiar: O incentivo e fortalecimento de programas de apoio à agricultura familiar, como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), serão fundamentais para a recuperação do setor. Esses programas oferecem linhas de crédito específicas, assistência técnica e suporte para a comercialização da produção.

Apesar das perdas bilionárias e do futuro incerto, a esperança prevalece entre os agricultores gaúchos. A resiliência e a força de trabalho do homem do campo são qualidades reconhecidas nacionalmente. Com o apoio do governo, das entidades do agronegócio e da solidariedade da população brasileira, a agricultura familiar do Rio Grande do Sul superará esse momento difícil e voltará a produzir alimentos de qualidade para a mesa dos brasileiros.

Por fim, Rafael Corsino e Patrícia Pereira ressaltam a importância da adoção de medidas de prevenção no longo prazo. O investimento em sistemas de drenagem, o incentivo a práticas agrícolas sustentáveis e o desenvolvimento de variedades de hortaliças mais resistentes às intempéries climáticas são ações fundamentais para minimizar os impactos de futuras enchentes.