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Monte Carmelo produz café com certificação

Marcelo Urtado inova com uso de tecnologias de baixo carbono. Produção alterna café com espécies arbóreas 

 

Em Monte Carmelo (MG), a Fazenda Três Meninas vem colocando em prática um projeto ousado. O proprietário, Marcelo Urtado, engenheiro agrônomo pela Universidade Estadual Paulista e Mestre em Tecnologia Ambiental pela Universidade de São Paulo, conta que defensivos agrícolas e fertilizantes químicos deixaram de ser utilizados em sua propriedade, ao passo que tecnologias de baixo carbono foram incorporadas ao cultivo: uso de plantas de cobertura, inclusive no inverno, e Sistemas Agroflorestais,  com culturas arbóreas e arbustivas intercaladas às linhas de café. Entre as culturas arbóreas e lenhosas estão o guapuruvu, fedegosão, jequitibá-rosa e ingá edulis e, entre as espécies arbustivas, a erva-baleeira e o fedegosinho.

De acordo com Marcelo, o resultado é positivo. Segundo ele, além do benefício da produção madeireira associada, há maior diversidade de habitats para os inimigos naturais de pragas que atacam a cultura, assim como menor ocorrência de doenças. Para o produtor, esse sistema melhora a fertilização do solo, reduz taxas de evapotranspiração, reduz impactos do vento sobre as plantas e resulta em um microclima mais úmido e mais favorável ao desenvolvimento e produção de café.

A Fazenda Três Meninas é uma das 34 propriedades integrantes de um projeto ambicioso para fixação de carbono e redução de emissões atmosféricas no Brasil. O Projeto é realizado pela Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado de Monte Carmelo (MonteCCer) em parceria com o SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. O projeto foi certificado pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola, o IMAFLORA, certificadora consolidada no mercado nacional que viabilizou a certificação internacional pela Prefered by Nature, certificadora que vem atuando na área da pegada de carbono no mundo inteiro.

Com os dados coletados e o diagnóstico das emissões de CO₂ da Fazenda 3 Meninas e de outras áreas participantes do projeto, constatou-se com balanço de emissões de carbono atmosférico negativo, ou seja, sequestram mais carbono do que emitem, o que representa um resultado muito bom pra quem tem interesse em acumular créditos de carbono.

Marcelo e a esposa, Paula – que inspirou o nome da Fazenda Três Meninas junto com as filhas Malu e Fernanda – comemoram os resultados do trabalho e as premiações em concursos de qualidade de café e prêmio de fazenda sustentável da região do Cerrado Mineiro.

Marcelo Urtado avalia que ainda há muitos desafios para a mensuração de dados de emissão de GEE, mas considera a conquista da certificação internacional um grande avanço para o mercado de créditos de carbono no Brasil.

Conforme Marcelo explicou, para a mensuração de dados de emissão de gases GEEs, contabiliza-se o uso de adubos nitrogenados, diesel, defensivos agrícolas, energia elétrica, dentre outros produtos que elevam a emissão de GEEs, assim como é considerado o uso de tecnologias de baixo carbono, resultando em um balanço final positivo ou negativo. O balanço negativo seria um bom resultado, indicando que há mais captura de gases GEE que emissão para a atmosfera, e foi o caso da Fazenda Três Meninas que tiveram balanço negativo de emissão de GEEs.

Mas, conforme explica Marcelo, há um problema e uma dificuldade na mensuração desse balanço final em função da metodologia, já que as medições utilizadas pelo mercado internacional precisam ser ajustadas para países tropicais, como o Brasil. Isso porque em países temperados as taxas de crescimento florestal e, consequentemente, de fixação de gases GEE são bem mais lentas em função, principalmente, de fatores climáticos.

Para Marcelo o Projeto proposto pela MonteCCer traz boas expectativas de que, em breve, essas medições estejam ajustadas e estabelecidas, trazendo a possibilidade de que os produtores brasileiros façam parte, de maneira efetiva, deste mercado internacional.

O mercado de carbono e a agricultura de baixo carbono estão entre as pautas do agronegócio mais discutidas da atualidade.

Em novembro do ano passado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançou o programa BNDES Créditos de Carbono, o primeiro de compra de carbono regular por um banco público no Brasil, com o objetivo de estimular projetos geradores destes créditos.

Para Kimberly Montagner, Coordenadora de Novos mercados e Estratégias no Instituto CNA, “o Brasil tem um grande potencial de crédito de carbono certificado para oferecer.” O que ela chama de “oceano azul de oportunidades no meio da inovação: um grande, promissor e rentável mercado para as startups do país.”

Diversas práticas agronômicas consideradas de baixo carbono já são adotadas por muitos produtores rurais brasileiros e, de acordo com Nelson Ananias Filho, diretor de Sustentabilidade da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária, o grande desafio é reunir todas essas informações, sobre essas práticas já realizadas, e encaixar em uma metodologia que seja aprovada dentro do Sistema Brasileiro de redução de emissões, ou de um sistema mundial, para chegar à regulamentação efetiva do mercado de carbono.

Diante de desafios como este, e pensando nas oportunidades, o Sistema CNA/Senar promoveu ao final de 2022, em suas redes sociais, um debate sobre o mercado de carbono, que, junto à conectividade, seguro paramétrico, rastreabilidade animal e comércio eletrônico, compõem os desafios lançados pelo HUB CNA Digital.

A CNA lançou um edital para investimento de 150 mil reais, para cada desafio, para que empresas tragam soluções para esses setores.

A assinatura do contrato da empresa escolhida para desenvolver soluções para o mercado de carbono deve acontecer no dia 15 de março, e será divulgado no site do Hub CNA Digital.

Entenda como funciona o mercado de créditos de carbono

O mercado de créditos de carbono se baseia na redução da emissão de gases GEE para a atmosfera ou em retirar esses gases da atmosfera.

Os mercados de crédito de carbono permitem que empresas, organizações e indivíduos compensem as suas emissões de GEE a partir da aquisição de créditos gerados por projetos de emissão e/ou captura de carbono, com o objetivo de conter o aquecimento global e as mudanças climáticas.

Atualmente, no mundo, existem 2 tipos de mercado de carbono: o mercado regulado e o voluntário.  No mercado regulado os governos nacionais, regionais ou estaduais obrigam à redução de emissões ou compensação e definem um preço por tonelada de CO2. Este mercado ainda não está estabelecido no Brasil.

O que já funciona no Brasil é o mercado voluntário, onde empresas, organizações e pessoas físicas negociam e estabelecem, em acordo, o preço da tonelada de CO2, firmando contrato conforme as definições de cada projeto. Para cada tonelada de carbono retirada ou que deixa de ser lançada para a atmosfera gera-se um crédito de carbono.

Saiba como as tecnologias de baixo carbono capturam GEEs

Na agricultura a fotossíntese é um mecanismo importante para fixação do CO2 atmosférico, um dos principais gases GEE, que é incorporado à planta em forma de carboidratos ou açúcares. Desta forma, o cultivo de espécies perenes, especialmente arbóreas, tem alta capacidade de manter o CO2 incorporado ao seu material lenhoso, funcionando como um compartimento importante de armazenamento desse GEE.

As leguminosas, como o feijão e a soja, fixam biologicamente o nitrogênio atmosférico, componente de outro GEE importante: o óxido nitroso. Por isso o plantio de florestas, nativas ou exóticas, homogêneas ou mistas, e cultivo intercalar ou rotação de cultura com uso de leguminosas são consideradas tecnologias de baixo carbono. Estas e outras tecnologias, como o Sistema de Plantio Direto, com uso de palhada ou cobertura seca, Sistemas agroflorestais, integração Lavoura-Pecuária-Floresta, práticas de recuperação de pastagem e áreas degradadas, assim como o tratamento de dejetos animais, também são consideradas práticas de agricultura de baixo carbono e já são utilizadas por muitos produtores rurais brasileiros.

Além dessas tecnologias, Nelson Ananias Filho, ressalta que os produtores também contribuem para a agricultura de baixo carbono ao cumprirem a Lei de Proteção Florestal, 12.651/12, garantindo a manutenção de Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal.