YouTube
Revista3-8

Diagnóstico do solo e consciência técnica no agro: novo episódio do Podcast 100PORCENTOAGRO traz ciência, dados e propósito à conversa sobre produtividade

Foto de Crusenho Agus Hennihuno/Pexels
Foto de Crusenho Agus Hennihuno/Pexels

Apresentado em parceria com a Expocacer, o episódio já está disponível no Youtube e Spotify. Em pauta, o papel do solo nas decisões agrícolas e destaca a importância da amostragem correta

A nova edição do Podcast 100PORCENTOAGRO, já disponível, e mergulha em um dos temas mais decisivos — e muitas vezes negligenciados — da agricultura moderna: o solo. Com apresentação da Expocacer, o episódio conduzido por Rodolfo de Souza recebe dois convidados que oferecem visões complementares sobre ciência, prática e futuro do campo: Diego Siqueira, professor e pesquisador da UNESP, e Ingryd Alves, acadêmica de Agronomia.

Na conversa, Diego e Ingryd reforçam a necessidade de olhar para o solo não apenas como um meio físico de produção, mas como base de decisões técnicas que impactam produtividade, sustentabilidade e rentabilidade. Diego Siqueira alerta: “o volume de solo analisado em laboratório representa uma fração ínfima da área total”. O professor detalha: em solos com densidade de 1,2 g/cm³, considerando a camada de 0 a 20 cm, uma amostra representa apenas uma colher de chá para cada 2.500 toneladas de solo, quando a coleta é feita por hectare. Em áreas maiores, a distorção pode ser ainda mais expressiva — chegando ao equivalente a 20 piscinas olímpicas de solo para cada colher analisada.

Esses números reforçam a responsabilidade envolvida na etapa de coleta. Segundo Diego, “sem protocolo adequado, o resultado pode enganar”, o que equivale a um exame clínico mal feito. Por isso, o episódio traz destaque à amostragem estratificada, que respeita as variações naturais do terreno e evita os erros de interpretação associados ao uso de grids fixos.

A conversa também presta homenagem ao trabalho histórico do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), que mantém desde 1965 um dos programas mais antigos do mundo voltados ao controle de qualidade de laboratórios de solos. Hoje, a rede inclui quase 150 laboratórios, distribuídos em 23 estados brasileiros, atuando como uma espécie de “atenção primária à saúde do solo”. A expressão, usada por Diego Siqueira, sintetiza a ideia de que os laboratórios deveriam ocupar papel central nas decisões agronômicas.

Dados recentes reforçam a necessidade de intensificar esse cuidado. O Programa de Qualidade aponta que, mesmo com os avanços, o volume de análises ainda é insuficiente diante da demanda agrícola do país. Estima-se que são realizadas cerca de 2,4 milhões de análises por ano. Considerando os 220 milhões de hectares cultivados, o número representa apenas uma análise para cada 73 hectares. Ainda que o total fosse arredondado para 3 milhões de análises, o cenário continuaria limitado.

O professor Diego reconhece a importância de tecnologias como drones, inteligência artificial, big data e biosoluções, mas enfatiza: “é urgente fazer melhor o básico”. Para ele, a construção de consciência técnica sobre o diagnóstico do solo é tão ou mais importante quanto a incorporação de inovações sofisticadas.

O episódio também destaca o papel dos jovens na construção de um novo senso de responsabilidade no campo, representado na entrevista pela acadêmica Ingryd Alves. Ao final, a mensagem central se consolida: compreender o solo como o “paciente mais importante do agro” é o primeiro passo para decisões mais eficientes, sustentáveis e produtivas.