Proposta é combater a fome e a pobreza. Iniciativa reúne políticas públicas bem-sucedidas e apoio internacional
Terminando hoje (17), em Brasília, a reunião do G20, coordenada pela Embrapa. O G20 é o grupo das 20 maiores economias mundiais. No evento, aberto na quarta-feira (15), sob a liderança do Brasil, a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza deu uma demonstração de força. A proposta brasileira, apresentada aos países do G20, visa criar um catálogo de políticas públicas bem-sucedidas voltadas ao combate à fome e à pobreza, além de um grupo de apoiadores para implementá-las.
“A ideia central é ter uma cesta de soluções exitosas de combate à fome e um sistema internacional de apoio à implementação dessas iniciativas nos países interessados”, disse Renato Godinho, do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), no Encontro dos Líderes Mundiais da Pesquisa Agrícola do G20 (MACS-G20), realizado em Brasília.
A iniciativa surgiu a partir do agravamento do problema da fome, que não só aumentou no Brasil, mas também no mundo nos últimos anos, atingindo 735 milhões de pessoas em 2022, o que representa 9,2% da população mundial. Em comparação, em 2019, 7,9% das pessoas do planeta passavam fome.
“A Aliança prevê um acervo de políticas públicas bem-sucedidas em alguma parte do mundo. Os países então escolhem aquelas mais adequadas à sua realidade e solicitam a ajuda da Aliança à sua implementação”, explicou Godinho. “A iniciativa, então, colocará os demandantes em contato com os parceiros mais adequados para auxiliar em cada caso”.
A Aliança contra a Fome contará com três pilares: um nacional, formado pelos países participantes da iniciativa; um pilar financeiro, que reúne instituições provedoras de recursos para as ações, e o de conhecimento. “É nesse último pilar que entra a pesquisa científica agropecuária”, acrescentou Godinho.
“A missão primordial da Aliança será apoiar e acelerar esforços para eliminar a fome e a pobreza extrema no mundo. O projeto prevê que isso seja feito por meio da redução das desigualdades e em consonância com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ODS)”, concluiu Godinho.
Destaque do evento: a ciência como ferramenta para a paz global
Na reunião do G20, o professor emérito da Universidade de Ohio (EUA), Rattan Lal, laureado com o Prêmio Nobel da Paz em 2007, destacou a importância da ciência na busca pela paz global. Lal enfatizou que as guerras causaram grandes danos aos solos mundiais, poluindo, contaminando e destruindo a biodiversidade. Ele defendeu que a paz global também é uma questão de ciência.
Segundo Lal, a segurança alimentar global não é um problema de produção de alimentos, que cresceu seis vezes nas últimas décadas, mas sim de sua distribuição. O professor observou que a África, apesar de ter uma população muito menor que a da Índia, gasta anualmente US$ 60 bilhões na importação de alimentos.
Lal associa a revolução agrícola do século XXI a três pilares: resiliência do solo, eficiência ecológica e no conhecimento científico orientado para gestão da agropecuária mundial. Para o professor, os sistemas alimentares e a produção agrícola devem ser a solução para o aquecimento global e outras questões ambientais, ao mesmo tempo que promovem a segurança alimentar e nutricional e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU.
Essas reflexões históricas são fundamentais para entendermos o contexto em que a Aliança Global contra a Fome, liderada pelo Brasil, está inserida. A ciência, a paz e a segurança alimentar estão intrinsecamente ligadas e são essenciais para o combate à fome e à pobreza no mundo.