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Plano Safra em debate: novo episódio do Podcast 100PORCENTOAGRO analisa impactos no Cerrado Mineiro

Roger Montanari (à direita) e Bruno Faria analisam o Plano Safra
Roger Montanari (à direita) e Bruno Faria analisam o Plano Safra

Com participação de Roger Montanari e Bruno Faria, episódio já disponível no YouTube e Spotify aponta riscos ao produtor e pressões sobre o crédito rural

Já está disponível o novo episódio do Podcast 100PORCENTOAGRO, que traz uma análise detalhada dos impactos do Plano Safra 2025/2026 sobre a sustentabilidade financeira dos produtores do Cerrado Mineiro. A edição, transmitida pelo YouTube e pelo Spotify, reúne dois especialistas reconhecidos na área: o consultor Roger Montanari, da Avanze Consultoria em Negócios, e o contador Bruno Faria, da Result Agro. A mediação é de Rodolfo de Souza, jornalista do agronegócio e sócio-fundador do 100PORCENTOAGRO.

O foco do episódio recai sobre os efeitos práticos do plano recém-anunciado pelo governo federal, que destina R$ 516,2 bilhões à agricultura empresarial. Em termos nominais, o montante representa aumento de 1,5% frente à temporada anterior (R$ 508 bilhões). No entanto, uma leitura atenta dos dados expõe redução no poder real de investimento. Considerando a inflação acumulada de 3,9% nos últimos 12 meses, o cenário revela retração.

Entre os pontos abordados está a redistribuição dos recursos. O volume reservado às linhas de investimento diminui de R$ 107 bilhões para R$ 101 bilhões — recuo de 5,6%. Já os valores voltados ao custeio e à comercialização crescem para R$ 414 bilhões, ampliando a dependência de capital de giro e reduzindo a capacidade de modernização das propriedades.

Para Roger Montanari, a elevação das taxas de juros torna o acesso ao crédito ainda mais desafiador. “Mesmo com o aumento dos recursos equalizados, o efeito prático pode ser limitado diante do custo real de capital”, avalia. Roger aponta que no PRONAMP o custo do financiamento subiu de 8% para 10% ao ano. Nas demais categorias, a taxa passa de 12% para 14%. Com a Selic mantida em 15% ao ano, o impacto direto recai sobre a rentabilidade do produtor. “O novo Plano Safra exige mais do que nunca uma gestão financeira estruturada e estratégica”, complementa.

Montanari atua na estruturação de modelos de controle e planejamento financeiro voltados ao agronegócio. Com MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Compliance, sua trajetória inclui a implementação de ferramentas aplicáveis à realidade de produtores da agricultura e da pecuária. A atuação da Avanze Consultoria tem contribuído para que as propriedades respondam com solidez às mudanças no ambiente de crédito.

Ao lado dele, Bruno Faria oferece uma leitura aplicada ao campo. Especialista da Result Agro e analista dos canais 100PORCENTOAGRO, Faria é contador com ampla experiência em estratégias de gestão no meio rural. Durante o episódio, compartilha exemplos da região do Cerrado Mineiro que mostram como o atual contexto impõe atenção redobrada à liquidez das operações, aos prazos de pagamento e à alocação eficiente dos recursos.

 

FPA critica volume anunciado

O debate também repercute reações institucionais ao anúncio oficial do plano. A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), por exemplo, critica duramente o volume anunciado. O deputado Pedro Lupion (PP-PR), presidente da bancada, afirma: “O plano é mais uma peça de marketing do que uma política efetiva”. Segundo ele, o governo tem controle direto sobre apenas 22% do total apresentado. “O restante é dinheiro dos bancos, a juros de mercado, muitas vezes acima de 2% ao mês. Não se pode vender isso como apoio estatal ao agro.”

Ainda de acordo com Lupion, em 2023 o governo prometeu R$ 138 bilhões com juros controlados, mas executou R$ 92,8 bilhões. Para o novo ciclo, a previsão é de R$ 113,8 bilhões. “Quando comparo o que foi anunciado em 2023 com o que está sendo prometido agora, houve recuo. Estão vendendo crescimento onde há perda de ambição”, critica.

Outro ponto destacado pela FPA envolve o aumento estimado de até R$ 58 bilhões em juros que devem ser pagos pelos produtores ao longo da próxima safra. A estimativa inclui os impactos da Selic elevada e os efeitos da Medida Provisória 1303/2025, que prevê tributação sobre as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) — instrumento responsável por financiar 43% da produção rural na última temporada. “Esse é o verdadeiro recorde que o governo está entregando: R$ 58 bilhões a mais em juros para o produtor pagar. O plano é recorde no custo, não no apoio”, afirma o parlamentar.

O episódio também destaca a ausência de um plano efetivo de seguro rural. Segundo a FPA, a falta de cobertura compromete a segurança do produtor e transforma eventual perda em dívida renegociada. Dados do Portal da Transparência apontam que, dos R$ 1 bilhão reservados para o seguro em 2025, apenas R$ 67 milhões foram executados até agora — o equivalente a 6,7%.

Lupion reconhece ajustes pontuais, como o aumento do teto do PRONAMP de R$ 3 milhões para R$ 3,5 milhões e a ampliação do limite do PCA para 12 mil toneladas. No entanto, atribui os juros altos à desorganização fiscal do Executivo. “A Selic subiu para 15% porque o governo perdeu o controle dos gastos. O Banco Central segura a inflação porque o Executivo não segura a despesa. O resultado é crédito caro, produção pressionada e comida mais cara para o consumidor.”

A FPA sugere uma série de medidas para enfrentar os desafios do setor, incluindo a transferência do Cadastro Ambiental Rural (CAR) para o Ministério da Agricultura, redução do número de ministérios, extinção de supersalários e novas regras para a gestão de imóveis públicos. Também propõe prorrogar a alíquota zero do IOF-Câmbio até 2030, manter a isenção da cesta básica e garantir segurança jurídica às operações com risco sacado.