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Revista3-8

Haircut no agronegócio: lições da crise na Lavoro e AgroGalaxy para fornecedores e investidores

 

POR MAURICIO SCHNEIDER: Ex-CEO da StartSe Agro, Cofundador da Solubio, Empreendedor Endeavor, Investidor Anjo, Palestrante, Membro do Acelerate 2030, da ONU

“Haircut” é quando você vai ao barbeiro. No agro, é quando a empresa quebra e raspa o fornecedor.

Essa semana, a Lavoro Agro pediu recuperação extrajudicial. Mas calma. Antes que alguém saia correndo, vale explicar: não é uma RJ disfarçada. É diferente do que vimos recentemente com a AgroGalaxy.

Enquanto a Lavoro chamou os credores na mesa, propôs um plano, garantiu o fluxo de caixa, manteve a operação e tentou preservar o ecossistema… a AgroGalaxy jogou a toalha, entrou na justiça, cancelou pedidos, destruiu a confiança da cadeia, e tentou resolver tudo no tapa, ou melhor, no haircut.

Resultado?

  • A AgroGalaxy viu sua receita despencar 78% no 1T25.
  • Fechou metade das lojas.
  • Demitiu 40% do time.
  • Saiu do jogo da safrinha.
  • Quebrou o elo com quem mais importava: o produtor e o fornecedor.

Enquanto isso, a Lavoro, mesmo sofrendo:

  • Manteve operação.
  • Manteve faturamento (queda de 27%, mas operando!).
  • Manteve estoque com apoio dos fornecedores.
  • E ainda propôs pagar 100% do passivo, corrigido, em até 5 anos. (E não saiu dizendo por aí que “tá tudo bem porque o plano foi homologado”.)

Me diz: Qual dessas duas estratégias você acha que os fornecedores vão apoiar daqui pra frente? Qual delas vai conseguir crédito, barter, insumo, financiamento, confiança?

Mas a questão aqui é mais profunda. A queda da AgroGalaxy e o baque da Lavoro escancaram o colapso da tese de consolidação das revendas no Brasil. Nutrien também tá sofrendo. Outras estão apagando incêndio todo mês. A conta não fecha com margens apertadas, juros altos e má execução. A promessa era virar “o Magalu do Agro”. Mas esqueceram que não dá pra escalar cultura, confiança e gestão de risco com planilha de Excel e capital de fundo apressado.

A pergunta que fica é: como deixamos isso acontecer? Quem fez due diligence nesses deals? Quem achou que era possível consolidar dezenas de culturas, canais e regiões com o mesmo playbook de shopping center? Quem decidiu que crescer era mais importante do que durar?

O agro não quebra fácil. Mas quando quebra, quebra com gente junto. Fornecedor, produtor, equipe comercial, parceiro logístico, todo mundo leva junto.

Talvez esteja na hora de repensar essa história. Mais do que fusão e aquisição, talvez a revolução da revenda venha de outro lugar:

  • Da confiança construída com o produtor.
  • Da inteligência de dados aplicada no campo.
  • De uma operação lean, eficiente, com skin in the game.
  • De startups? Talvez.
  • De cooperativas que se reinventam? Pode ser.
  • Ou quem sabe, de um novo modelo ainda nem testado…

Mas o que é certo é que RJ, haircut e ruptura de confiança não vão liderar o futuro. Se você é investidor, executivo ou fornecedor, essa história vale mais do que mil relatórios. Porque haircut todo mundo já tomou. Agora é hora de cortar o que realmente importa: a ilusão de que só crescer resolve.

 

 

Conteúdo publicado originalmente no perfil do autor no LinkedIn.