
Diante de um cenário global marcado por incertezas econômicas, guerras comerciais e desinformação, o Brasil reforça seu papel como destino seguro para investimentos no agronegócio
Com o tema “Alimentar, Energizar e Preservar”, o Congresso Abramilho 2024 reuniu representantes do governo, economistas, embaixadores e lideranças do setor para debater a posição estratégica do Brasil no mercado global, especialmente em um momento de instabilidade nas relações comerciais internacionais.
O economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, avaliou que as novas tarifas impostas pelos Estados Unidos representam um retrocesso histórico nas relações comerciais globais. “As medidas adotadas pelo presidente Donald Trump significam um retrocesso de 120 anos nas relações comerciais dos EUA com o mundo”, afirmou.
Segundo Megale, esse movimento tem provocado queda na confiança dos empresários americanos, aumentando o risco de recessão e provocando desvalorização do dólar frente a outras moedas — o que favorece momentaneamente o real brasileiro.
Impacto no Brasil deve ser mais ameno desta vez
Apesar das tensões globais, o Brasil tende a sentir menos os efeitos dessas tarifas no atual contexto, segundo Leonardo Alencar, head de agro da XP. “Diferente de 2018, quando a guerra tarifária impulsionou um super ciclo de commodities, agora os efeitos para o Brasil serão mais suaves. Podemos ver uma leve tendência de queda nos preços, mas há estabilidade. A China já é nossa grande parceira comercial”, observou.
O diretor do Departamento de Política Comercial do Itamaraty, embaixador Fernando Pimentel, fez um alerta sobre a necessidade de o Brasil adotar estratégias mais firmes nas relações internacionais. “Precisamos nos preparar para um mundo mais rude e difícil, e isso significa termos ferramentas como a política de reciprocidade comercial”, defendeu.
Além das barreiras comerciais, a desinformação tem se tornado uma barreira invisível ao avanço da imagem do agro brasileiro. Durante o painel “Sustentabilidade e os Desafios da Geopolítica Atual”, o adido agrícola em Bruxelas, Glauco Bertoldo, disse que o combate à desinformação exige paciência e estratégia. “Não somos perfeitos, há espaço para melhorias. Mas não podemos aceitar ataques desproporcionais da comunidade internacional”, declarou.
Bertoldo tem participado ativamente de fóruns e eventos técnicos na Europa com o objetivo de apresentar dados corretos sobre o modelo produtivo brasileiro, baseado em ciência, eficiência e sustentabilidade.
Singapura vira ponte para melhorar imagem do Brasil na Ásia
Atuando no Sudeste Asiático, o adido agrícola Luiz Cláudio Caruso relatou que empresas e entidades brasileiras têm se estruturado melhor para a comunicação internacional. “A presença de escritórios brasileiros em Singapura tem facilitado o entendimento do público local e contribuído para a melhoria da imagem do Brasil e do agro”, disse Caruso.
Para o CEO da Bayer, Márcio Santos, o desafio da comunicação vai além das fronteiras internacionais. “Precisamos fortalecer o agro aqui dentro do País também. Muitos brasileiros não entendem como o setor funciona e isso gera conflitos e desinformação que acabam sendo replicados lá fora”, destacou.
O presidente da Aprosoja-MT, Lucas Beber, defendeu a criação de uma política robusta de atração de investimentos. “Temos a agricultura mais sustentável do mundo. O que falta é levar essa realidade à sociedade, tanto no Brasil quanto no exterior”, afirmou.
Em sua terceira edição, o Congresso Abramilho contou com o apoio da Basf, da Croplife e da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Entre os patrocinadores estiveram Aprosoja-MT, Aprosmat, Pivot Bio, Fase-MT, Bayer, Corteva, Senar e Syngenta.