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Trump impõe tarifa de 40% sobre café e carne do Brasil e impacta exportações da cafeicultura do Cerrado Mineiro

Tarifa de Trump ameaça exportações de café do Cerrado Mineiro (Imagem gerada por IA)
Tarifa de Trump ameaça exportações de café do Cerrado Mineiro (Imagem gerada por IA)

Medida entra em vigor em sete dias e pressiona competitividade do agronegócio brasileiro; empresas mineiras terão R$ 300 milhões em apoio emergencial

A imposição de uma nova tarifa de 40% sobre produtos brasileiros, anunciada oficialmente nesta quarta-feira (30) pelo governo dos Estados Unidos, afeta diretamente a cafeicultura e outras cadeias produtivas estratégicas da Região do Cerrado Mineiro. O decreto presidencial assinado por Donald Trump estabelece que a cobrança extra se aplica a produtos como café, carne, ovos, frutas, cacau e açúcar — itens relevantes na pauta de exportações do agronegócio mineiro para o mercado norte-americano.

A medida será aplicada a partir das 00h01 (horário de verão da costa leste dos EUA) do sétimo dia após a publicação da ordem executiva. Todos os produtos importados que entrarem para consumo nos Estados Unidos ou forem retirados de depósitos a partir desse horário estarão sujeitos à nova alíquota. Essa cobrança se soma aos 10% já em vigor desde abril, elevando para 50% a carga tarifária total aplicada aos itens impactados.

No texto divulgado pela Casa Branca, o governo dos EUA justificou a ação com base em “ameaças à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos” atribuídas ao governo brasileiro. Embora a tarifa final tenha sido fixada em 40%, abaixo dos 50% anunciados anteriormente por Trump, a medida eleva consideravelmente o custo da produção brasileira no mercado internacional.

O impacto é especialmente significativo para o Cerrado Mineiro, uma das principais regiões exportadoras de café do país. O aumento da tarifa prejudica a competitividade dos produtores locais e amplia a preocupação com o futuro das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos.

Segundo dados da Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos (USITC), a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) calculou que 694 produtos brasileiros foram excluídos da tarifa, entre eles suco e polpa de laranja, celulose, madeira tropical e castanhas. Essas exceções representam US$ 18,4 bilhões em exportações brasileiras em 2024 — ou 43,4% do total de US$ 42,3 bilhões exportados pelo país para os EUA.

Ainda assim, setores estratégicos permanecem desprotegidos. Em comunicado oficial, a Amcham Brasil alertou: “Produtos que ficaram de fora da lista continuam sujeitos ao aumento tarifário, o que compromete a competitividade de empresas brasileiras e, potencialmente, cadeias globais de valor”. A entidade defendeu a resolução de divergências por meio de “diálogo construtivo em alto nível”, valorizando a histórica relação econômica e diplomática entre os dois países, que já ultrapassa dois séculos.

Para conter os efeitos imediatos da decisão sobre a economia mineira, o governador Romeu Zema anunciou um pacote emergencial de R$ 300 milhões em apoio às empresas mais afetadas. Os recursos serão distribuídos em duas frentes: R$ 200 milhões por meio de linha de crédito do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e R$ 100 milhões via monetização de créditos de ICMS acumulados com exportações.

Durante coletiva realizada na sede da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), o secretário de Estado da Fazenda, Luiz Cláudio Gomes, destacou a disponibilidade de um estoque expressivo de créditos de ICMS para atender os exportadores prejudicados. “Nós conseguimos selecionar R$ 100 milhões, que serão distribuídos de uma forma ainda a ser acordada com o mercado, de maneira a atenuar os impactos para quem está sofrendo com esse tarifaço”, afirmou.

Já o presidente do BDMG, Gabriel Viegas, detalhou as condições da nova linha de crédito: taxa subsidiada de 0,9% ao mês, sem correção monetária, com um ano de carência e prazo de pagamento de 60 meses. O teto de financiamento ainda será definido em conjunto com a Fiemg e a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede).

“O BDMG já disponibilizou R$ 200 milhões para atender aos setores e às empresas mais afetados. Logicamente, como o decreto foi publicado hoje, as nossas equipes já estão trabalhando no sentido de identificar quais são essas empresas e quais são esses setores, justamente porque o recurso é finito, e o grande objetivo é auxiliar aquelas que mais precisam neste momento”, explicou.

O presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, considerou a medida positiva no curto prazo e ressaltou a importância de ampliar o uso dos créditos de exportação no futuro. “São medidas relevantes, mas os montantes são muito grandes. Quando a gente fala que só um setor exporta US$ 1 bilhão, nós estamos falando de R$ 6 bilhões”, observou. “R$ 100 milhões, R$ 200 milhões, são relevantes para o Estado de Minas Gerais em termos do esforço, mas ainda não são suficientes. […] O maior aporte tem que vir do governo federal, mesmo porque são ações nacionais”, completou.

Com o agravamento da situação tarifária, o setor cafeeiro do Cerrado Mineiro observa com atenção os próximos desdobramentos, especialmente diante do risco de retração no volume de exportações e da possível perda de mercado em um dos principais destinos do café brasileiro.