Estudos mostram que probióticos reduzem doenças do cafeeiro em até 95%. Além disso, promovem o crescimento das mudas e melhoram a produtividade
Os probióticos podem desempenhar um papel fundamental no controle de doenças e no desenvolvimento de mudas de café. A indicação é de pesquisas recentes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), do Instituto Biológico de São Paulo (IB) e da Embrapa. Resultados de testes conduzidos com dois probióticos comerciais, formulados com Bacillus — Colostrum BIO 21 MIX e Colostrum BS — demonstraram eficácia na redução de doenças como ferrugem, mancha de phoma e mancha aureolada, além de promoverem o crescimento das mudas.
“Os probióticos foram particularmente eficazes contra a ferrugem do cafeeiro, reduzindo sua severidade em até 95% nas mudas”, diz Guilherme de Freitas, mestre pela Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp. A formulação do Colostrum BIO 21 MIX inclui uma combinação de Bacillus subtilis com outras bactérias do ácido lático, como Lactobacillus spp., Enterococcus faecium e Pediococcus acidilactici. Já o Colostrum BS contém apenas células de Bacillus subtilis.
Além da ferrugem, os probióticos também mostraram sucesso no combate a outras doenças do cafeeiro. Para De acordo com Wagner Bettiol, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, “no caso da mancha de phoma, os probióticos Colostrum BIO 21 MIX e Colostrum BS reduziram a severidade em até 79%, enquanto para a mancha aureolada, a redução chegou a 56%”. Esses resultados mostram o potencial dos probióticos para uma alternativa mais sustentável no manejo de doenças que afetam os cafezais.
O impacto da ferrugem é particularmente preocupante para os produtores, dado que pode provocar perdas de até 50% na produção, dependendo da severidade.”Altos índices de severidade da ferrugem podem resultar em perdas de produção que variam de 35% a 50%”, explica a pesquisadora Flávia Patrício, do Instituto Biológico, reforçando a importância de soluções eficazes para a cultura do café.
Probióticos e o desenvolvimento das mudas
Além de atuar no controle de doenças, os probióticos também contribuem para o desenvolvimento das mudas de café. Freitas relata que os produtos estimulam “a massa fresca e seca da parte aérea, o volume radicular e a área foliar”, provavelmente devido à produção de fitohormônios pelas bactérias e à maior disponibilidade de nutrientes, como fósforo e potássio. Essa combinação permite que as mudas cresçam mais fortes, o que pode melhorar a produtividade quando são transplantadas para o campo.
Esses consórcios microbianos, como o presente no BIO 21 MIX, são promissores por atuarem de forma sinérgica, ajudando a melhorar a saúde e a vitalidade das mudas desde as fases iniciais do cultivo. Segundo Patrício, “não existe produto biológico recomendado para o controle da mancha de phoma até o momento, de acordo com o Agrofit 2023”, o que demonstra a relevância das descobertas para uma alternativa mais sustentável ao uso de agrotóxicos.
Como agem os probióticos
Os probióticos utilizados no estudo produzem compostos como ácidos acético, lático e propiônico, determinantes na sua atividade antifúngica. Além disso, eles competem com os patógenos, dificultando sua adesão, produzem compostos antimicrobianos e estimulam a microflora benéfica, além de fortalecerem o sistema imunológico do cafeeiro. “Essas bactérias podem ser vistas como uma forma de melhorar a saúde das plantas e, por consequência, a qualidade e produtividade da cultura”, afirma Freitas.
Freitas também ressalta que “as bactérias do ácido lático presentes nos probióticos são reconhecidas como seguras conforme estabelecido pela FDA e pela EFSA”, o que sugere uma maior facilidade para a aprovação desses produtos para uso agrícola em comparação a outros ainda não estudados. Além disso, os probióticos podem ser administrados de várias formas — cápsulas, comprimidos, líquidos ou pós — e podem conter um ou mais microrganismos, oferecendo flexibilidade na sua aplicação.
Embora os probióticos sejam amplamente conhecidos por seus benefícios à saúde humana, eles também desempenham papel importante na produção animal. Na avicultura, por exemplo, ajudam a combater a Salmonella spp., e na suinocultura, protegem os animais contra Escherichia coli. Freitas ressalta que “os probióticos, além de oferecerem inúmeros benefícios à saúde animal, podem ser importantes aliados da sanidade e do crescimento de cafeeiros”.
O estudo aponta para um caminho promissor no uso de probióticos como uma solução sustentável e eficaz para os desafios que a cultura do café enfrenta, desde o controle de doenças até a promoção do crescimento. Com os avanços da pesquisa, o setor cafeeiro pode se beneficiar de alternativas mais seguras e sustentáveis para melhorar a produtividade e a qualidade dos grãos.