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Plano Safra 2025/2026 impõe custos bilionários ao produtor e amplia incertezas no crédito rural, avaliam FPA e especialistas

Lupion, da FPA, diz que Plano Safra é peça de marketing (Crédito: FPA)
Lupion, da FPA, diz que Plano Safra é peça de marketing (Crédito: FPA)

Podcast 100PORCENTOAGRO recebe Roger Montanari, que vai conversar com Bruno Faria e Rodolfo de Souza para discutir os impactos do novo Plano Safra no Cerrado Mineiro

A nova edição do Podcast 100PORCENTOAGRO vai ao ar no dia 11 de julho, às 10h, com transmissão pelo YouTube e Spotify. O episódio será conduzido por Rodolfo de Souza, jornalista do agronegócio e sócio-fundador do 100PORCENTOAGRO, e terá como convidado o consultor Roger Montanari, da Avanze Consultoria em Negócios. O contador Bruno Faria, da Result Agro, analista de Gestão Financeira no Agronegócio nos canais 100PORCENTOAGRO, vai participar do bate-papo. Em pauta, os efeitos do Plano Safra 2025/2026 sobre a sustentabilidade financeira de produtores na Região do Cerrado Mineiro.

O novo Plano Safra foi lançado com um volume anunciado de R$ 516,2 bilhões para a agricultura empresarial. O valor representa crescimento nominal de 1,5% em relação à temporada anterior (R$ 508 bilhões), mas, quando corrigido pela inflação de 3,9% acumulada nos últimos 12 meses, revela redução no poder real de investimento e custeio. Houve queda de 5,6% nas linhas de investimento — de R$ 107 bilhões para R$ 101 bilhões — enquanto os recursos para custeio e comercialização avançaram de R$ 401 bilhões para R$ 414 bilhões.

Roger Montanari alerta para o impacto desse cenário sobre o planejamento das propriedades. “Mesmo com o aumento dos recursos equalizados, o efeito prático pode ser limitado diante do custo real de capital”, analisa. Ele lembra que, no PRONAMP, o custo do crédito passou de 8% para 10% ao ano; nas demais categorias, subiu de 12% para 14%. A taxa Selic segue em 15% ao ano, pressionando ainda mais os custos da produção. “O novo Plano Safra exige mais do que nunca uma gestão financeira estruturada e estratégica”, acrescenta.

Roger Montanari: “efeito prático pode ser limitado diante do custo real de capital”.

Montanari é gestor empresarial com MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Compliance. Sua experiência foi convertida em métodos replicáveis por empreendimentos do agro que buscam sustentabilidade financeira com foco em resultados consistentes e crescimento sólido. Seus modelos valorizam análises voltadas ao impacto direto sobre os indicadores das propriedades.

A análise técnica do episódio também contará com a participação de Bruno Faria, contador com ampla atuação em estratégias de gestão financeira no campo, especialista da Result Agro e responsável por acompanhar indicadores de desempenho de propriedades agrícolas e pecuárias. Sua participação trará ao episódio exemplos práticos e dados aplicados ao contexto do Cerrado Mineiro.

Bruno Faria, contador com ampla atuação em estratégias de gestão financeira no campo

Plano Safra é duramente criticado

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) reagiu ao novo plano. Segundo o deputado Pedro Lupion (PP-PR), presidente da bancada, “o plano é mais uma peça de marketing do que uma política efetiva”. Ele afirma que o governo só tem controle real sobre 22% do montante anunciado. “O restante é dinheiro dos bancos, a juros de mercado, muitas vezes acima de 2% ao mês. Não se pode vender isso como apoio estatal ao agro.”

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Lupion observa que em 2023 o governo prometeu R$ 138 bilhões com juros controlados, mas executou apenas R$ 92,8 bilhões. Para a nova safra, a promessa é de R$ 113,8 bilhões. “Quando comparo o que foi anunciado em 2023 com o que está sendo prometido agora, houve recuo. Estão vendendo crescimento onde há perda de ambição”, declarou.

Dos R$ 13,5 bilhões previstos para equalização de juros na nova safra, R$ 9,5 bilhões foram destinados à agricultura familiar e apenas R$ 3,9 bilhões à agricultura empresarial. “Esse é o gasto real do governo com o agro empresarial. Todo o resto é dinheiro de banco, do mercado, emprestado a taxas muitas vezes impagáveis. No fim, o governo gasta pouco e transfere o custo ao produtor”, argumentou.

A FPA calcula que os produtores deverão arcar com até R$ 58 bilhões a mais em juros durante o próximo ciclo. A conta inclui não apenas os impactos da Selic elevada, mas também os efeitos da Medida Provisória 1303/2025, que prevê tributação sobre as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), instrumento responsável por financiar até 43% da produção rural na última safra. “Esse é o verdadeiro recorde que o governo está entregando: R$ 58 bilhões a mais em juros para o produtor pagar. O plano é recorde no custo, não no apoio.”

Sem seguro, o produtor fica exposto e o país termina discutindo dívidas e renegociações

Lupion apontou ainda a ausência de qualquer referência ao seguro rural durante o lançamento do plano. “Sem seguro, o produtor fica exposto e o país termina discutindo dívidas e renegociações.” Dados do Portal da Transparência mostram que, dos R$ 1 bilhão previstos para o seguro rural em 2025, apenas R$ 67 milhões foram executados até agora — o equivalente a pouco mais de 6%.

Embora tenha reconhecido avanços pontuais, como o reajuste do teto do PRONAMP de R$ 3 milhões para R$ 3,5 milhões, e a ampliação do limite do PCA para 12 mil toneladas, o presidente da FPA responsabilizou o Executivo pelos juros elevados. “A Selic subiu para 15% porque o governo perdeu o controle dos gastos. O Banco Central segura a inflação porque o Executivo não segura a despesa. O resultado é crédito caro, produção pressionada e comida mais cara para o consumidor.”

A FPA apresentou um conjunto de propostas estruturais. Entre elas: a transferência do Cadastro Ambiental Rural (CAR) para o Ministério da Agricultura; a redução do número de ministérios de 31 para 19; o fim dos supersalários e a reestruturação do uso de imóveis públicos. Na frente econômica, sugere prorrogar a alíquota zero do IOF-Câmbio até 2030, dar segurança jurídica para operações com risco sacado e manter a isenção da cesta básica.