Corredor de agricultura regenerativa no Cerrado Mineiro é apresentado em evento nacional no DF

Evento realizado em Brasília apresentou estudo com mapeamento de 2 mil propriedades e estratégias para redução de impactos climáticos na cafeicultura do Cerrado Mineiro

O 100PORCENTOAGRO cobriu o evento “Paisagem Regenerativa do Cerrado Mineiro – Reforçando a Resiliência Hídrica em Território Produtivo”, em Brasília, na terça-feira dia 15. A iniciativa, promovida pelo Consórcio Cerrado das Águas (CCA), com apoio do Sebrae Minas, Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF), Ecossistemas e Selo Verde de Minas Gerais, reuniu representantes do setor público e privado, lideranças de cooperativas e empresas parceiras, pesquisadores e técnicos para a apresentação de um estudo técnico que deu origem ao projeto de um corredor de agricultura regenerativa na região. A reportagem é de Eduardo Vinícius, Victor Lucas e André Duarte.

O encontro foi realizado no Hotel San Marco, no centro da capital federal, e marcou um avanço nas discussões sobre estratégias de adaptação às mudanças climáticas no bioma Cerrado. A programação incluiu palestras, painéis e discussões voltadas aos impactos ambientais e econômicos da degradação do solo e à importância da conservação da biodiversidade nas áreas produtivas. Durante os debates, foi enfatizada a necessidade de promover ações articuladas para manter a oferta hídrica em territórios agrícolas estratégicos, como a Região do Cerrado Mineiro, onde estão localizados 55 municípios distribuídos pelo Alto Paranaíba, Triângulo Mineiro e Noroeste de Minas.

O estudo apresentado pelo CCA foi construído a partir do mapeamento de mais de 2 mil propriedades rurais. A proposta é conectar essas áreas em um corredor de agricultura regenerativa, integrando práticas sustentáveis com estratégias de conservação ambiental. O modelo de reconexão de paisagens prioriza ações de insetting — ou seja, práticas implementadas dentro e ao redor das propriedades — e busca ampliar a resiliência hídrica e climática, além de reduzir emissões de gases de efeito estufa.

Em entrevista concedida ao 100PORCENTOAGRO durante o evento, Juliano Tarabal, diretor executivo da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, destacou o impacto das condições climáticas sobre a cafeicultura regional.

A proposta do corredor conta também com a previsão de parcerias técnicas com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O pesquisador Argemiro Teixeira Leite Filho participou do evento e, em entrevista, detalhou: “As ferramentas atuais permitem identificar áreas prioritárias para restauração, mapear a vegetação existente, monitorar o uso do solo e detectar ameaças como incêndios e desmatamento. Também é possível simular cenários futuros, avaliando o impacto de políticas de conservação. O Cerrado já sofre um atraso de 36 dias na estação chuvosa, redução de 8,6% nas chuvas e aumento de 1,5°C na temperatura desde os anos 1980. Em regiões com 80% de vegetação nativa, pode haver um atraso de 10 dias ou mais nas chuvas a cada dois anos. Em áreas com perda de até 20%, esse risco praticamente desaparece”.

Ao longo do dia, representantes de empresas parceiras, prefeituras e organizações da sociedade civil relataram experiências locais de boas práticas agrícolas e preservação de recursos naturais. A intenção do CCA é mobilizar novos participantes para aderirem à proposta, ampliando o alcance da governança da plataforma colaborativa, cuja origem está ligada à cadeia produtiva do café no Cerrado.

Por meio do Programa de Investimento no Produtor Consciente (PIPC), o consórcio já conduz a transição de 4 mil hectares para a agricultura regenerativa, conserva 202 hectares de vegetação nativa e alcança 150 mil pessoas diretamente. Entre os participantes da plataforma estão Nescafé, Expocaccer, Nespresso, Lavazza, Cooxupé, Cofco International, Volcafe, NKG Stockler, Daterra, Federação dos Cafeicultores do Cerrado, CerVivo, Starbucks Farmer Support Center, JDE e as prefeituras de Serra do Salitre e Coromandel.