
Crescimento em estados como Espírito Santo, Rondônia e Bahia amplia projeção do Brasil no mercado internacional
O Brasil caminha para assumir uma posição inédita no mercado global de café canéfora. Já reconhecido como maior produtor e exportador de café arábica, o país pode ultrapassar o Vietnã e conquistar a liderança mundial também nesse segmento até 2026 — desde que o clima colabore.
Durante um encontro virtual promovido pela Associação Brasileira de Marketing Rural e Agro, Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), resumiu o atual cenário com uma declaração direta: “O nosso conilon está arrasando em qualidade, sustentabilidade e produtividade. O mundo abraçou essa ideia, e, se não tivermos problemas climáticos, em 2026 a gente passa o Vietnã”.
A afirmação é sustentada pelo avanço da produção de café canéfora no país, especialmente em estados como Espírito Santo, Rondônia e Bahia. Esse tipo de grão, que inclui as variedades conilon e robusta, já representa 30% da safra brasileira. O Espírito Santo é responsável por aproximadamente 65% desse total.
No mercado internacional, o canéfora responde por cerca de 40% da produção global. Essencial para a indústria de café instantâneo, esse grão ainda é liderado em volume pelo Vietnã, seguido por Brasil, Indonésia, Índia e Uganda. O diferencial brasileiro, segundo Matos, está na capacidade de entregar qualidade com regularidade e compromisso com prazos e contratos.
Apesar desse desempenho, o diretor do Cecafé apontou um desafio persistente: a falta de visibilidade internacional do café nacional. “Nosso importador nos conhece muito bem, sabe que somos competitivos. Mas, ao mesmo tempo, está numa posição cômoda. Porque o Brasil entrega tudo, mas o nosso produto fica escondido. Falta presença, falta contar nossa história”, comentou.
Reposicionamento internacional do café brasileiro
Uma das frentes de atuação para mudar essa percepção tem sido a China. Em 2017, o país asiático mal aparecia nas estatísticas. Ocupava a 30ª posição entre os compradores do café brasileiro. Hoje, figura entre os dez maiores importadores.
O avanço veio com uma estratégia ousada. A indústria brasileira começou a enviar contêineres de café gratuitamente para redes chinesas, acompanhados de vídeos curtos com histórias de famílias produtoras e paisagens das regiões cafeeiras.
… os chineses não estão nem aí para a ideia de país grande ou forte. Eles querem ver histórias, gente, famílias. Adoram vídeos curtos, com narrativa afetiva
Segundo Marcos Matos, a abordagem funcionou porque foi baseada em narrativas humanas. “A embaixada nos alertou: os chineses não estão nem aí para a ideia de país grande ou forte. Eles querem ver histórias, gente, famílias. Adoram vídeos curtos, com narrativa afetiva. Foi o que fizemos”.
Com crescimento de 20 vezes nas exportações de café para a China desde 2017, o Brasil agora aposta na continuidade dessa conexão. Projeções indicam que, em até dez anos, os chineses poderão disputar com Estados Unidos e o próprio Brasil as primeiras posições entre os maiores consumidores de café do mundo.