YouTube
Revista3-8

Trump eleva tarifa para 50% e atinge exportações do café do Cerrado Mineiro

Medida reacende alerta no agro brasileiro e coloca em risco a competitividade do café do Cerrado Mineiro no mercado global

POR RODOLFO DE SOUZA, editor-chefe do 100PORCENTOAGRO

A imposição de uma tarifa de 50% pelos Estados Unidos sobre o café brasileiro gerou uma crise de grandes proporções para os principais produtos agrícolas exportados pelo Brasil, com impacto direto na cafeicultura nacional. O café é o produto de maior relevância da Região do Cerrado Mineiro, onde lideranças ouvidas pelo 100PORCENTOAGRO reagem com cautela e preferem deixar as manifestações a cargo de entidades nacionais representativas do setor.

A medida do governo norte-americano, que entra em vigor nesta quarta-feira, dia 6 de agosto, adiciona 40% a uma tarifa de 10% já existente. O café foi notavelmente excluído da lista de exceções. O Brasil — com destaque para Minas Gerais, maior produtor e principal fornecedor de café para os EUA — enfrenta impactos econômicos e sociais severos, especialmente para pequenos e médios produtores.

Lideranças do setor, representadas por entidades como o Conselho Nacional do Café (CNC), o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) e a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (ABICS), manifestaram uma posição unificada de preocupação e mobilização. Argumentam que a tarifa prejudica não apenas o Brasil, mas também o próprio mercado americano, elevando os preços para os consumidores e desestabilizando a cadeia de suprimentos.

A estratégia do setor é dupla: intensificar negociações diplomáticas com o governo dos EUA, buscando a inclusão do café na lista de exceções, especialmente após sinalizações de isenção para produtos naturais não produzidos domesticamente; e, paralelamente, diversificar os mercados de exportação, fortalecendo a promoção comercial global do café brasileiro.

Além do impacto comercial, declarações recentes revelam uma dimensão política subjacente à decisão. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a tarifa é uma retaliação política de Donald Trump, “como uma espécie de vingança” contra o Brasil. Segundo Lula, “é inadmissível que, por questões ideológicas e eleitorais, o Brasil seja penalizado dessa forma”. A menção a uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro reforça a percepção de uma decisão com motivações além do comércio.

Essa complexidade política dificulta negociações tradicionais, indicando que uma resolução pode exigir engajamento diplomático de alto nível, potencialmente sobrepondo-se a argumentos econômicos. A ausência de justificativa clara para taxar o café, dada sua relevância para ambas as economias, evidencia uma agenda que extrapola o comércio.

O Brasil é o maior produtor e exportador mundial, com Minas Gerais liderando tanto a produção quanto a exportação, respondendo por 72% da área cultivada de café arábica e 75% da produção nacional. Os Estados Unidos representam o mercado mais relevante, absorvendo cerca de 16% das exportações brasileiras. Em 2024, aproximadamente 8 milhões de sacas foram enviadas ao mercado americano. O Brasil abastece entre 30% e 40% do consumo de café nos EUA.

Além do peso econômico, a cadeia produtiva do café no Brasil é responsável por cerca de 8,4 milhões de empregos diretos e indiretos. Desse total, aproximadamente 254 mil são pequenos produtores. O setor é essencial para o desenvolvimento regional e melhoria da qualidade de vida em diversas comunidades.

A dependência mútua entre Brasil e EUA no comércio de café cria uma situação de vulnerabilidade compartilhada. Enquanto o Brasil enfrenta perdas substanciais nas exportações, os Estados Unidos encaram a perspectiva de aumentos expressivos nos preços para seus consumidores e possíveis instabilidades em sua indústria cafeeira.

Analistas como James Watson, do Rabobank, afirmam que os EUA não conseguem substituir facilmente o café arábica brasileiro. Essa interdependência confere ao Brasil uma forte alavanca diplomática. Demonstrar que as tarifas são prejudiciais aos próprios interesses americanos é uma das principais apostas do setor para pressionar a administração de Trump a reconsiderar a medida. O “tarifaço” é, em essência, uma faca de dois gumes.

A rapidez com que a tarifa foi implementada, entrando em vigor amanhã, gerou intensa pressão sobre o setor cafeeiro brasileiro. O CNC solicitou o adiamento da medida, mas a resposta foi negativa. Reações do mercado, incluindo a volatilidade nos preços, refletem ações antecipatórias dos importadores, que buscam minimizar perdas. O cronograma apertado, com pouco tempo para adaptação, impõe uma corrida urgente por isenções ou novos mercados, criando instabilidade no curto prazo.

O argumento da “indispensabilidade” é central e apresentado de forma consistente por entidades como Cecafé e ABIC. A tese sustenta que o café brasileiro não é apenas uma commodity, mas um componente essencial do mercado americano. Dados sobre participação de mercado e dependência dos EUA corroboram essa afirmação, destacando a escassez de alternativas viáveis, especialmente para o café arábica, no curto prazo.

Essa narrativa é uma ferramenta diplomática potente. Ao demonstrar que os EUA não podem substituir facilmente a oferta brasileira sem sofrer interrupções significativas e aumento de custos, o setor cafeeiro brasileiro busca transformar a dependência do mercado americano em trunfo nas negociações.

Mesmo que as tarifas sejam eventualmente suspensas ou reduzidas, a crise expôs a vulnerabilidade de uma dependência excessiva de um único grande mercado. Isso reforça a necessidade de uma estratégia de exportação mais robusta, diversificada e globalmente competitiva, com investimento governamental e apoio político, visando uma indústria mais resiliente a longo prazo.

A pressão diplomática contínua, inteligência de mercado estratégica e investimento em promoção internacional serão fundamentais para garantir a estabilidade e a competitividade do setor cafeeiro brasileiro diante deste cenário desafiador.