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Revista 100PORCENTOAGRO destaca pesquisa da UFLA sobre novo método de calagem

Professor Silvino Moreira, da UFLA (Foto: Jairo Hanashiro)
Professor Silvino Moreira, da UFLA (Foto: Jairo Hanashiro)

Estudo liderado pelo professor Silvino Moreira comprova que a calagem profunda redefine o manejo do solo, aumenta o rendimento das lavouras e fortalece a sustentabilidade no agronegócio brasileiro

A acidez natural dos solos tropicais sempre foi um dos maiores entraves da agricultura brasileira. Durante décadas, o calcário foi aplicado de forma superficial, sem alcançar as camadas onde o sistema radicular realmente se desenvolve. Reportagem publicada na edição mais recente da Revista 100PORCENTOAGRO destaca uma pesquisa conduzida pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) que promete romper essa limitação. A reportagem, assinada pelo editor-chefe da revista, Rodolfo de Souza, contou com orientação técnica de Junior Cézar Resende Silva, Mestre em Fitotecnia/UFLA e Consultor técnico do 3R Ribersolo.

Sob a coordenação do professor Silvino Moreira, o estudo publicado na revista internacional “Soil & Tillage Research” — uma das mais respeitadas publicações científicas do setor — revela que a calagem profunda pode transformar o desempenho das lavouras e redefinir o conceito de fertilidade do solo nos trópicos.

Os experimentos de Silvino e sua equipe demonstraram que o método tradicional, baseado na saturação por bases (SB), corrige apenas a superfície, deixando as camadas inferiores desbalanceadas em cálcio e magnésio — nutrientes decisivos para o crescimento radicular.

A pesquisa testou diferentes proporções e doses de calcário em sete regiões de Minas Gerais, estabelecendo novos parâmetros técnicos. Os resultados mostraram que, para alcançar 95% da produtividade relativa, o solo precisa conter 4,1 cmolc/dm³ de cálcio e 2,0 cmolc/dm³ de magnésio na camada de 0 a 20 cm.

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Com essa abordagem, a saturação ideal de cálcio passa a ser 60% da capacidade de troca catiônica (CTC), o que ajusta o equilíbrio entre Ca²⁺ e Mg²⁺ e garante melhor aproveitamento da água e dos nutrientes disponíveis.

Silvino sintetiza a descoberta: “Ao invés de ficar 4 ou 5 anos tentando corrigir o solo e tendo produtividade baixa, é possível uma produtividade mais alta a partir do primeiro ano”.

O método foi validado em propriedades com diferentes texturas e profundidades de solo. O resultado foi imediato: plantas mais vigorosas, raízes mais profundas e lavouras mais resistentes à seca.

Ciência aplicada: do laboratório à fazenda

A pesquisa não ficou restrita à academia. O Grupo de Pesquisa em Sistema de Produção (GMAP), da UFLA, composto por cerca de 30 estudantes, transformou o estudo em um programa contínuo de experimentação em campo.

Entre os participantes estão Flávio Araújo de Moraes, Júnior Cézar Resende Silva e Otávio Lopes Vieira Campos, profissionais que hoje atuam como difusores da metodologia junto a consultorias agrícolas e produtores de grande escala.

Na prática, a calagem profunda vem sendo aplicada em diferentes biomas e tipos de solo. Em Nova Maringá (MT), o produtor Marcelo Prado da Motta, da Fazenda Santa Helena, afirma: “Com essa nova fórmula, realmente estamos ofertando cálcio e magnésio na proporção adequada. Estou confiante que vamos alcançar patamares de produtividade melhores”.

Em Nazareno (MG), Evandro Puia, do Grupo G7, reforça que a chamada “alta dose de calcário” é, na verdade, uma aplicação precisa e ajustada ao diagnóstico do solo.

UFLA fortalece o elo entre ciência e campo

O reconhecimento internacional do trabalho da UFLA reforça o papel das universidades públicas na geração de conhecimento aplicável. Além dos avanços técnicos, o estudo liderado por Silvino Moreira conecta produtividade com sustentabilidade, já que o manejo correto da calagem favorece o sequestro de carbono e reduz a necessidade de insumos químicos.

O professor antecipa os próximos passos: novas pesquisas focadas em solos arenosos e regiões do Cerrado, em parceria com a Embrapa e instituições estaduais de pesquisa. O objetivo é validar as recomendações em diferentes condições de clima e relevo, ampliando o alcance do método.

A descoberta da UFLA confirma que o futuro da produtividade agrícola brasileira está no subsolo — em compreender como cada centímetro de terra pode ser mais fértil, eficiente e resiliente. A calagem profunda, ao corrigir o perfil químico do solo, estabelece um novo padrão técnico para o agro tropical, combinando ciência, precisão e resultados concretos.

Judicialização do agro e outros destaques da edição

Em segundo plano, o tema de capa da Revista 100PORCENTOAGRO traz um alerta sobre a banalização da recuperação judicial no agronegócio. O editorial ressalta o uso indevido do instrumento legal como mecanismo de gestão financeira, prática que ameaça a credibilidade do crédito rural e a segurança das cadeias produtivas.

Outras reportagens da edição abordam a força das cooperativas mineiras, o avanço da agricultura irrigada e o papel da educação corporativa do Unipam Corporate na formação de lideranças regionais. Há ainda espaço para a sustentabilidade na cafeicultura, o protagonismo feminino na torrefação e a análise técnica da inadimplência no campo.